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Ideias na roda

Inovações automotivas podem nascer de foguetes, aviões e até do olhar de filósofos

Por Maria Paola de Salvo e Ulisses Cavalcanti
Atualizado em 9 nov 2016, 12h24 - Publicado em 10 Maio 2013, 15h28
geral

Na década de 20, o aviador francês Gabriel Voisin, amigo de Santos Dumont, trabalhava num sistema de freios mais eficiente para seus recém-criados aviões e acabou por lançar, sem querer, as bases do ABS (sigla em inglês para Antilock Braking System). Voisin desenvolveu um mecanismo que evitava o travamento das rodas em frenagens. A indústria automobilística se interessou pelo projeto e decidiu incorporá-lo aos carros. Em 1928, surgia o primeiro esboço de regulador de força para freios automotivos, que contudo nunca saiu do papel. Oito anos depois, a Bosch obteve a patente de outra versão do sistema, mas à época não havia tecnologia suficiente para um sistema eficaz e de baixo custo. Somente com a eletrônica, nos anos 70, foi que se encontrou uma solução para produzir o ABS. A primeira versão do equipamento começou a ser fabricada em série em 1978 e, no mesmo ano, passou a equipar o Mercedes-Benz Classe S. Hoje, 76% dos carros, no mundo todo, recebem a invenção concebida por Voisin.

O ABS não é a primeira tecnologia a nascer fora do habitat automotivo. Além da indústria aeronáutica, outros segmentos servem de fonte para as montadoras, como as áreas de telefonia, aeroespacial, informática, robótica e até a indústria do entretenimento. Um componente essencial ao controle de estabilidade (ESP), o sensor de taxa de guinada, veio de foguetes. Servia originalmente para guiar a trajetória do foguete e, nos carros, registra o movimento de rotação do veículo ao redor de seu eixo vertical. O objetivo é detectar instabilidades, como uma possível “perda de traseira”. Hoje o sensor está presente até em celulares e computadores.

Dos aviões vieram ainda o GPS, o fly-by-wire (tornou-se drive-by-wire) e a integração de sistemas eletrônicos. Montadoras e até algumas organizações estudam como incluir caixas-pretas nos carros para registro de atividades e acidentes.

“Aproveitamos ideias que atendem às necessidades dos consumidores e oferecem benefícios sensíveis”, diz o diretor de gestão de inovação da BMW, Artur Russ. Ideias que não resolvem problemas do dia a dia do motorista ou tecnologias que ainda não têm demanda dificilmente saem do papel. Um exemplo é o conceito F 200 Imagination, apresentado pela Mercedes-Benz em 1996. Sem volante, pedais de acelerador ou de freio, o carro era controlado por um joystick. Apesar de funcionar bem, a novidade nunca chegou ao mercado, pois não gerou interesse.

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Para detectar os desejos dos compradores, as fábricas mantêm um olho no mercado e outro no futuro. Detentora de 80000 patentes, a Mercedes investe 15 bilhões de reais anuais em pesquisa e desenvolvimento. Para enxergar o amanhã, a empresa conta com engenheiros, cientistas da computação, matemáticos, filósofos, psicólogos e sociólogos. A missão dos “futurólogos” é buscar e antecipar megatendências sociais e culturais, como mudanças climáticas e demográficas e fenômenos como a globalização e a crescente urbanização.

Nem todas as inovações estão à frente de seu tempo. A maioria surge das necessidades cotidianas. Para desvendá-las, as montadoras organizam clínicas, espécie de reunião com potenciais clientes. “Extraímos os desejos dos consumidores e, em função disso, novas tecnologias”, diz José Loureiro, gerente de engenharia da Volkswagen. Há mais de dez anos, a fábrica percebeu que o motorista brasileiro toparia abastecer seu carro com álcool, mas ainda tinha receio das crises de desabastecimento do passado. A VW criou, então, o primeiro carro bicombustível, em março de 2003, o Gol Total Flex. Mais recentemente, a BMW descobriu, também por meio de clínicas, que seu público queria permanecer conectado à internet enquanto dirigia, mas sem que isso colocasse em risco a segurança na direção. Especialistas em gerenciamento de inovações entraram em ação para avaliar a viabilidade técnica e financeira da internet a bordo e os benefícios trazidos ao consumidor. Dois anos depois, a montadora lançou o recurso. Batizado de BMW Connected Drive, o primeiro sistema de acesso à web dentro do carro equipa hoje vários modelos da marca.

Legislações severas de emissões de poluentes e pressões de ativistas e associações de consumidores também podem dar partida em uma nova tecnologia. A fabricante de autopeças Bosch, por exemplo, vive de olho nos crash tests realizados pela NCAP (New Car Assessment Programme). O sistema que detecta sinais de sonolência no motorista (Driver Drowsiness Detection) nasceu de uma extensa pesquisa da Bosch em bancos de dados de acidentes de trânsito.

Boa parte do aprimoramento tecnológico dos carros deve-se aos sistemistas, que são fornecedores especializados em componentes complexos, como painéis de instrumentos, faróis, bancos e equipamentos de som, por exemplo. Normalmente, eles trabalham em conjunto com o departamento de engenharia dos fabricantes, em projetos encomendados, mas frequentemente são responsáveis por novidades. A Valeo tem quase todas as montadoras europeias e americanas entre seus clientes. A empresa é dona da tecnologia PARK4U. A francesa desenvolveu um sistema de sensores ultrassônicos capazes de fazer uma varredura no canto da via, medindo e identificando espaços ou “vagas” capazes de abrigar o veículo. Modelos sofisticados, como BMW Série 5 e VW Tiguan, conseguem inclusive estacionar praticamente sozinhos. O motorista precisa apenas controlar freio e acelerador. Um próximo possível passo é controlar a manobra pelo smartphone, do lado de fora do carro. Uma das vantagens de sair do carro antes de ele estar na vaga é evitar contorcionismos em locais apertados, nos quais mal é possível abrir a porta. Sem o celular, a solução da Valeo provavelmente não seria aplicável.

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A Ford juntou-se a Sony e Microsoft para desenvolver o sistema de áudio e entretenimento de bordo de seus modelos. Todo o software e gerenciamento de conexão com o celular ficaram a cargo da gigante da informática. A Sony ficou encarregada de desenvolver o aparelho de som e o projeto de acústica da montadora. Bang & Olufsen, Meridian e Bose também emprestam sua expertise (e grife) na área de sonorização.

O Google é conhecido por seu sistema de busca na internet, considerado o mais afiado que existe, mas a empresa também está na dianteira quando o assunto são carros autônomos. A americana é líder nas pesquisas de tecnologias capazes de dispensar os motoristas e é dona de um dos melhores sistema de navegação existentes – facilidade que até então não se encontrava à disposição de nenhuma montadora. Os leds chegaram aos automóveis pelo brake-light, pois são mais rápidos que lâmpadas incandescentes. Por sua durabilidade, baixo consumo de energia e altas taxas de luminosidade, migraram para a dianteira, no farol, e até para o interior da cabine. Ainda com gosto de novidade nos carros, a invenção já tem mais de 50 anos e nasceu nos laboratórios da gigante GE. As primeiras aplicações da novidade foram na indústria de eletrônicos.

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Carros sofisticados já conseguem estacionar sozinhos. O próximo passo é comandar a manobra pelo celular, com o motorista do lado de fora

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