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American car of life

Você acredita que o envolvimento dos Estados Unidos no Iraque foi correto e justificado? Você acredita que todo mundo tem direito a possuir quantas armas automáticas quiser e que Barack Obama é basicamente um comunista? Sim? Então é claro que seu carro é um Chevrolet Corvette. Porque ele não é só um carro. É uma […]

Por Jeremy Clarkson
26 set 2014, 10h00
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  • Você acredita que o envolvimento dos Estados Unidos no Iraque foi correto e justificado? Você acredita que todo mundo tem direito a possuir quantas armas automáticas quiser e que Barack Obama é basicamente um comunista? Sim? Então é claro que seu carro é um Chevrolet Corvette. Porque ele não é só um carro. É uma afirmação. Que diz que você é um conservador ferrenho, de uma família tradicional de pessoas tementes a Deus, que acredita em cabelos bem curtos, cerveja americana e no American Way of Life.

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    Ninguém dirige um Vette ouvindo George Michael. Ou música clássica. Coisa que nunca seria dita a alguém que tivesse acabado de sair de um carro desses é “Bem-vindo, Eminência”. E isso significa que simpatizantes do Partido Democrata, que ouvem George Michael, não dirigiriam um Corvette nem em 1 milhão de anos. E até agora não havia razão para se importar com isso. Porque dirigir o único esportivo – ha! ha! ha! – dos Estados Unidosera bem parecido com dirigir o outro carro do seu dono típico: uma picape. Suspensão dura, direção desconectada da estrada, controle difícil e falta de refinamento.

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    Você já parou para pensar por que nunca fabricaram um Corvette com o volante no lado direito, para a mão-inglesa? É porque a divisão de esportivos da Chevrolet considera que o mundo fora dos EUA está cheio de canibais e comunistas, nenhum dos quais apreciaria seus motores com comando no bloco e suspensão de feixe de molas. Amém. Louvemos o Senhor. Mas há um problema. Notei isso pela primeira vez há alguns anos, quando dirigia um Corvette ZR1, da geração anterior, entre São Francisco e o Deserto de Nevada. Eu sei, é claro, que produtos americanos muitas vezes não parecem tão ruins quando você está nos EUA – eu até consigo tolerar a Budweiser vendida em alguns estados. Mas o carro realmente não parecia tão ruim assim. Sim, continuava um grandalhão das antigas, mas parecia que a Chevrolet estava realmente tentando torná-lo mais do que 1 tonelada de plástico, ferro fundido e grunhido em linha reta.

    Agora as coisas pioraram, porque lançaram um Corvette totalmente novo. Eles o batizaram de Stingray e, bom, não sei como falar isso, mas… o carro é excelente! Sim, as mães ainda recolhiam seus filhos para dentro de casa quando eu passava e os ciclistas zombavam de mim com mais crueldade que o normal. Eu sentia a aversão de qualquer um com QI mais alto que a média. Queria colocar a cabeça para fora da janela e gritar: “Olha, eu sei que vocês acham que isto aqui é uma porcaria, que eu só comprei para mostrar minha paixão por música country. Mas acreditem: o carro é maravilhoso.”

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    Os Corvette sempre foram bonitos, mas este é uma obra-prima. Tem quatro escapes enormes e um capô mais esculpido do que a Cordilheira do Himalaia. Sim, concordo que é uma infantilidade, mas o que há de errado nisso? O Lamborghini Aventador é uma infantilidade. A Ferrari 458 Italia é uma infantilidade. O Jaguar F-Type é uma infantilidade. E o Stingray é tão bonito quanto qualquer um deles. De alguns ângulos é ainda mais bonito. É um dos carros com as proporções mais belas que já vi. Sob a carroceria, é como uma coletânea de maiores sucessos. Porque o que a Chevrolet fez foi pegar o melhor da Europa e do Japão e colocar no seu carro. Ele tem o mesmo tipo de diferencial eletrônico e suspensão de nomes impronunciáveis que você encontra nas Ferrari, a mesma tecnologia de controle do acelerador do Nissan 370Z, o mesmo tipo de head-up display do BMW M5 e um sistema que desativa metade dos cilindros quando eles não são necessários. O mesmo que você tem no Bentley. E ainda há coisas que você não encontra num carro europeu. Por exemplo, basta apertar um botão que a tela sensível ao toque desliza para baixo e revela um compartimento oculto grande o suficiente para guardar uma Bíblia e uma pistola pequena. Naturalmente, por baixo do exterior de alta tecnologia algumas coisas continuam firmemente retrógradas. O câmbio é montado na traseira, para melhorar a distribuição do peso, mas vem com o tradicional ruído quando você passa para a segunda ou terceira. O motor tem comando no bloco e só duas válvulas por cilindro, porque quatro é coisa de comunista. E a carroceria continua de fibra de vidro, porque fibra de carbono é conspiração da esquerda. Então sim, ele é um nerd de software do Vale do Silício, mas continua sabendo como matar um alce.

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    Qual é sua marca registrada? É a pancada na aceleração, espantosa até para os padrões europeus mais exigentes. Acerte a largada e o V8 de 6,2 litros faz o 0 a 100 km/h em 4,2 segundos. A velocidade, no velocímetro, seria de 330 mph (531 km/h). Acho que foram otimistas demais nisso: 180 mph (290 km/h) está mais perto do real. É claro que, ao longo dos anos, muitos carros americanos mostraram desempenho impressionante em linha reta, mas o Corvette também pode fazer outra coisa: curvas. Dos dois tipos: para a esquerda e para a direita. Eu pilotei o Stingray até a pista de testes do Top Gear e dentro dela alguns dias atrás e, mesmo tendo de admitir que acho que um céu azul limpo pode tornar qualquer conversível aceitável, adorei o carro.

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    Os problemas são mínimos. Em lombadas – que são coisa de comunista – a frente raspa, mesmo rodando devagar. E, não importa o ajuste selecionado, a suspensão é sempre um pouquinho mais firme do que precisa. Mas acho que um pouquinho de desconforto leva você para mais perto de Jesus. E o volante estava do lado errado do carro. Mas eu não me importei, porque estava me divertindo demais. Com todos os oito cilindros em ação, o urro quando se acelera é inebriante e o carro se comporta como um Mercedes SLS. O Corvette fica feliz quando há 40 graus de contraesterço nas rodas da frente, um motorista sorridente no meio e fumaça saindo dos pneus atrás suficiente para esconder um encouraçado.

    Nos EUA, um Stingray conversível custa US$ 71 000 (R$ 161 000). Mas a GM decidiu que o preço na Grã-Bretanha deveria ser de 64 540 libras (R$ 248 000). Sim, isso parece uma extorsão. Mas olhe desta maneira: uma Ferrari igualmente rápida custaria o dobro. Então, 64 540 libras para um conversível que chega a 290 km/h, lindo e tão bom de dirigir assim é a pechincha do século. Lembre que um Jaguar F-Type V8 custa quase 16 000 libras (R$ 61 400) a mais! E me desculpem, mas o Jag não é tão bom. Só uma coisa. Se você estiver num Jaguar, está convidado a passar na minha casa para chá e biscoitos. Se dirigir um Corvette Stingray, não!

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