“O DS é primeiramente um novo Nautilus”, disse o filósofo francês Roland Barthes num ensaio escrito em 1957. De certa forma, o fascínio exercido por aquele moderníssimo veículo assemelhava-se ao do submarino da ficção de Júlio Verne. Só que circulava 20.000 léguas acima e em chão firme.
Ou não tão firme, visto que em movimento sua suspensão podia ser ajustada em três alturas, possibilitando com conforto enfrentar as piores estradas.
Em 1955, o DS parecia vindo de outro planeta naquele Salão de Paris. De uma só vez, apresentou várias soluções raras na época, que hoje tornaram-se corriqueiras, como direção hidráulica, freios a disco dianteiros e partes da carroceria de materiais alternativos, como alumínio no capô e fibra de vidro no teto. Mas o grande destaque era a suspensão hidropneumática, que dispensava o conjunto mola-amortecedor.
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Estendendo a inovação introduzida em 1954 no eixo traseiro do Traction Avant, o DS tinha uma linha hidráulica que era a alma dos sistemas de suspensão, freio e assistência de direção. Como opcional, o conjunto podia ainda comandar uma transmissão semi-automática, outra das marcas daquele assombro automotivo que, em 15 minutos de salão, contabilizava 745 pedidos – número que saltou a 12.000 só no primeiro dia.
Havia ainda a aerodinâmica surpreendente, com Cx de 0,38, valor que melhoraria nas reestilizações de 1962 e 1967. Para efeito de comparação, o DS 5 atual, criado 55 anos depois e com dimensões semelhantes às do DS original, registra 0,30. Ainda protótipo, o estilo lhe valeu o apelido de “hipopótamo”. No Brasil, ficou “sapo” e, em inglês, “tubarão”.
Ainda que muito adiante de seu tempo, o DS, projetado originalmente como carro para grande público, esbarrava no alto preço, impressão ainda mais reforçada por ter sido lançado uma década após o fim da Segunda Guerra. Por isso, em 1957 estreava o ID, mais barato e simples. O ano de 1958 veria a estréia da perua – Break ou Safari, dependendo do país.
As inovações não parariam no lançamento. Em 1967, eram os faróis direcionais e, em 1969, ganharia a exclusiva injeção eletrônica. Em 1975, porém, o sedã saía de linha, seguido um ano depois pela Break. Depois de 1.455.746 carros, o CX o sucedia, porém sem o mesmo impacto do Nautilus sobre rodas.
Molas no ar
Como explicar um conceito tão inovador num simples anúncio? A solução desse encarte de 1960 era simples: colocar um balão de ar em cada roda e contar com a colaboração do leitor, que imaginava como seria o rodar com tal amortecimento. Surgiu até uma lenda urbana: a de que, caso você conseguisse capotar um DS, ganharia um novo de fábrica.
Trocadilhos
A graça dos nomes DS e ID está nos trocadilhos. Em francês, a pronúncia do primeiro é igual a déesse, (“deusa”). Já ID é próximo de idée (“idéia”), reforçando o caráter de opção racional. A Citroën usou esse recurso durante décadas, como nas versões esportivas VTS do Xsara e do C4 (que lembra vitesse, “velocidade”).
Ficha técnica – Citroën DS
- Motor: central-dianteiro, 4 cilindros em linha, arrefecido a água, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas no bloco. De 1911 cm3 (até 1965) a 2347 cm3 (1973 a 1975).
- Potência: de 75 (até 1961) a 141 cv (1973 a 1975).
- Câmbio: semi-automático de 4 marchas, manual de 4 ou 5 marchas, automático de 3 marchas.
- Dimensões: sedã ou perua, 4 ou 5 portas, 5 passageiros.
- Desempenho: comprimento, 484 cm; largura, 181 cm; altura, 147 cm; entreeixos, 312 cm.
- Velocidade máxima: de 140 (até 1961) a 188 km/h (1973 a 1975)