Seguro de marca
Montadoras fazem parceria com seguradoras para baixar o preço das apólices - mas as vezes isso não acontece
Quando uma nova geração de carro é lançada, as seguradoras enfrentam a dificuldade de estimar um valor de seguro, pois esse modelo não possui histórico de sinistros ou de comportamento de uso desses proprietários. É nessa hora que a montadora pode perder vendas, justamente num momento em que ela mais precisa de exposição, pois um automóvel que costuma ter desempenho ruim de vendas no início pode ter seu futuro no mercado comprometido. Daí veio a iniciativa de, em parceria com seguradoras, criar apólices com valores fixos ou proporcionais ao preço do modelo, independentemente do perfil do motorista. Quem já fez seguro do carro sabe que o perfil é a base de cálculo de qualquer seguro. Só para dar uma ideia, a proteção de um sedã médio como um Ford Focus ou um Honda Civic pode custar de 2 500 a 14 000 reais por ano, dependendo do endereço, da faixa etária e tipo de utilização do motorista.
“Há casos de carros que são novos e aparecem com os valores mais malucos”, afirma Oswaldo Ramos, gerente de marketing da Ford, que atualmente está promovendo o seguro do novo Focus Sedan S, de 69 990 reais, ao preço fixo de 2 300 reais.
Quem experimentou esse tipo de seguro e gostou foi o engenheiro Ricardo José Castro, 58 anos: ele comprou um Citroën C4 Lounge Tendance e pagou 1 812 reais pela apólice. “E olha que cotei com várias companhias, inclusive com um amigo que é corretor, e ele orçou em 2 500 reais. O valor mais baixo que consegui foram 2 100 reais”, conta. Segundo Ricardo, o preço do seguro é um fator determinante na hora de escolher um modelo novo. Seu filho acaba de comprar um Honda Civic e não conseguiu protegê-lo por menos de 2 600 reais. “É uma paulada.” Embora a iniciativa seja mais alardeada no período de lançamento, vale a pena perguntar se outros modelos com mais tempo no mercado não oferecem essa opção. A própria Ford mantém o seguro de preço fixo para outros quatro modelos: New Fiesta Hatch, Fusion, Ranger e EcoSport, sempre em parceria com a Mapfre.
Entre os objetivos do seguro sem levar em conta o perfil está construir um histórico de “bons antecedentes” do modelo. Daí ser mais fácil encontrar a opção entre modelos recém-lançados. Em parceria com a companhia Generali, a Peugeot oferece a opção no hatch compacto 208. Nesse caso, o valor não é fixo e sim correspondente a 5% do preço do carro. Ou seja, na versão intermediária Allure, que custa 46 290 reais, o valor do seguro será de 2 315 tanto para o filho recém-habilitado (para quem a proteção sairia muito mais cara) como para o pai de 45 anos (que tende a pagar menos).
Valor fixo por região
“Simples e fácil de calcular, esse é um sistema que veio para ficar”, diz Laurent Barria, diretor de marketing da Citroën, que lançou o preço de seguro do C4 Lounge fixado em 2,9% (portanto, a partir de 1 620 reais) e promete, em breve, estender a iniciativa para o compacto C3. A marca francesa vai além na busca de formas de conquistar novos clientes. Uma das iniciativas será criar um percentual especial para mulheres, que historicamente se envolvem menos em acidentes.
Também francesa, a Renault comercializa toda a sua linha com seguros a preços fixos, mas segmenta por região. A cidade de São Paulo, por exemplo, é dividida em centro, sul, oeste, norte e leste, com percentuais de acordo com o modelo. Um Sandero paga de apólice nas regiões sul e central o equivalente a 4,9% de seu valor. Mas se o CEP de pernoite for a zona leste (onde a incidência de roubo é maior), sobe para 8,1%. “O que diferencia os preços é só a região. Esse seguro é voltado aos clientes que preferem embutir o valor do prêmio do seguro no montante do financiamento que ele faz para adquirir o seu veículo em nossa rede de concessionárias”, explica Claudio Bovo, gerente-executivo de marketing do RCI, braço financeiro do grupo Renault. Nessa modalidade, é possível contratar o seguro não só por um ano, mas também por dois ou três. Sem dar mais detalhes, a Nissan promete oferecer a opção em toda sua linha de modelos no início de 2014.
Mas atenção: embora a função desse tipo de iniciativa seja garantir um valor mais baixo da apólice, nem sempre isso acontece. Em locais de moradia com baixo histórico de furto e roubo, é possível que o seguro tradicional seja mais barato. Por isso é imprescindível levar em consideração a máxima de que vale a pena realizar cotações no mercado antes de fechar com a apólice de preço fixo. Pedimos à consultoria Simplis cotações de oito modelos para um homem de 35 anos, casado, com garagem em casa e no trabalho. Em dois casos – Peugeot 208 e New Fiesta hatch (veja abaixo) – o plano da montadora ficou mais caro. No fim das contas, o seguro a preço fechado serve para que os fabricantes evitem que em determinados modelos não cole a pecha de que eles têm seguro alto demais, sendo verdade ou não.
PELA CULTURA
A apólice com preço fixo ainda causa polêmica no setor. “Esse seguro não considera o perfil do cliente. Sendo assim, os bons clientes, que dirigem com cuidado e guardam o veículo na garagem, acabam pagando o mesmo que os que têm um risco maior”, diz Rodrigo Weber, responsável pelos seguros do banco VW para as concessionárias. Em 2011 a marca criou esse tipo de seguro para a Amarok e, em 2012, a versão a preço fixo por CEP para compradores de Gol e Voyage. “Nem sempre o valor fica mais interessante. Na maioria das vezes, o preço era melhor para o cliente de perfil ruim e mais caro para o cliente de perfil bom.”