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Trocando o “W” pelo “V”

Por Jeremy Clarkson
25 abr 2012, 11h16

O motor V8 biturbo de 507 cv deixou o Bentley Continental GT mais leve e esportivo. Mas…

Estou no norte da Suécia, bem no meio da última grande região selvagem da Europa. Por 500 km, em qualquer direção, não há nada além de florestas de coníferas e neve. Bem no fim da manhã o Sol se levanta acima do horizonte, paira por alguns instantes e volta para trás das montanhas. Ele é pálido e totalmente destituído de calor. Faz frio aqui. Muito frio. Eu adoro. Adoro o frio incisivo de uma manhã de inverno escandinava: não importa quantas cervejas você tenha tomado na noite anterior, mesmo a pior ressaca é debelada pelas picadas de agulha do frio intenso e seco. Adoro o céu sem fim. Adoro os trajes para o frio. Adoro ver todo esse pessoal tão alto. Mas o que eu mais adoro é o jeito como as pessoas daqui dirigem seus carros.

Fui apanhado no aeroporto por um homem numa van. À frente nos esperava uma jornada de 4 horas até o lugar nenhum. “Vamos fazer em 3”, disse ele, saindo da área de desembarque de passageiros e apontando sua Sprinter para o norte. Ele estava errado. Viajando firme a 130 km/h, chegamos ao hotel em apenas 2 horas.

O que torna isso impressionante é que, embora os caminhões tenham tirado a neve acumulada da estrada, ela ainda estava coberta por 10 cm de gelo. Na Grã-Bretanha, tais condições fariam com que a TV recomendasse que todo mundo ficasse em casa. Mas, na Suécia, meu motorista dirigia a van como se estivéssemos no meio do verão da Córsega. De vez em quando ele largava seu celular por instantes para corrigir uma pequena saída de traseira, mas dava para ver nos olhos dele que a superfície da estrada não parecia ser um problema. Não é de estranhar que o mundo dos esportes a motor esteja cheio de gente desta região.

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É claro, você já ouviu isso antes. Como os suecos nascem com a capacidade de lidar com saídas de traseira. Que eles aprendem a fazer derrapagens controladas antes de andar. Mas eu vou lhes contar um segredinho: os suecos também batem seus carros. E muito. Ontem à noite vi dois caminhões caídos em valetas ao lado da estrada e um carro que atropelou um alce – um estrago. Especialmente para o carro.

Vamos aproveitar e fazer uma pausa para pensar nos reais benefícios da tração nas quatro rodas. Se ela fosse realmente necessária em condições climáticas inclementes, os suecos a teriam abraçado como ferramenta para mascarar suas habilidades ao volante. Mas eles não fizeram isso. Você raramente vê um veículo 4×4 por aqui. A maioria deles dirige carros semelhantes aos de outros países. O que me traz, de forma um tanto quanto desajeitada, à nova versão do Bentley Continental GT com tração integral, um carro de que eu nunca gostei muito. O primeiro automóvel que dirigi foi o Bentley do meu avô, e foi uma experiência alegre, sentado no colo do velho, guiando aquele enorme capô pela então República Socialista de Yorkshire do Sul. Por isso, ela deveria ser uma marca a me trazer doces recordações.

Mas não é o caso, porque nos últimos anos a Bentley foi sequestrada por Paris Hilton, Wayne Rooney e outras celebridades de poder de persuasão bem, digamos, duvidoso. Quando eu soube que jogaram ovos no carro de um jogador do Manchester City “de temperament forte” em uma de suas noitadas, eu sabia que tipo de carro deveria ser. E estava certo. O carro de Mario Balotelli é um Continental. É claro.

E tem mais. Esse não é um carro que tem pretensão de ser especialmente rápido. Tampouco é projetado para ser especialmente esportivo. Então, por que precisa de um enorme motor W12 biturbo de 6 litros? Eu vou dizer. Para que quem o compra possa se gabar para seus amigos naquela boate da moda: “Você só tem um V. Eu tenho um tremendo W”.

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Bem, o novo modelo o deixou de lado, em troca de um V8 biturbo de 507 cv mais leve, ágil e esportivo. Ele é parente do motor usado pelo novo Audi S8, mas no Bentley ele tem som de durão. Como se fumasse 60 cigarros por dia. É um som glorioso. E muitas vezes eu abri as janelas de vidro duplo do carro para sentir seu poder bruto. Ele não apenas transformou o som que o carro faz. Ele também mudou a sensação que passa. Eu não vou chamá-lo de bonitinho, mas é muito, muito melhor que o do carro de Paris ou Rooney. E também muito mais econômico. Com sorte, eles vão fazer uns 7 km/l. A versão nova faz 11,5 km/l.

É claro que você poderia ficar imaginando que, com 2 000 cm3 e quatro cilindros a mais, eles vão deixá-lo longe quando o semáforo abrir. Mas não é o caso. De 0 a 100 km/h, o carro novo é praticamente tão rápido quanto a versão W12 (agora ele faz em 4,8 segundos), e ainda atinge a máxima de  303 km/h. E, o que é melhor, ele tem um ronco superior, é mais divertido e mais econômico. E ainda custa 12 000 libras (32 500 reais) a menos.

Já o interior é basicamente o que se espera de um modelo desse tipo: couro acolchoado, botões do ar-condicionado que parecem ter sido montados em mel, painel feito de alumínio trabalhado e uma eletrônica vinda daquele poço infinito de bom senso, a Volkswagen.

É estranho. Isso é tudo o que detesto em um carro de motor grande, e descubro que estou gostando deste. Tração nas quarto rodas? Costumava ser inútil. Agora ela está certa e faz exatamente o que é necessário. Sensor de estacionamento excessivamente sensível? Costumava me deixar louco. Agora não. O peso? Ridículo. Agora? Está excelente – faz o carro passar uma sensação de sólido e plantado na estrada. Eu acho que é um pouco, digamos, como a cidade de Derby, na Inglaterra. Em um dia frio, chuvoso e cinzento, é o pior lugar da Terra. Mas quando o céu muda para azul ela se torna subitamente um lugar adorável. Foi o que aconteceu com o Continental. Mudou um detalhe, mas ele fez com que tudo parecesse melhor.

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Exceto o estilo. Desculpem-me, mas em termos visuais esse carro tem para mim o apelo de uma ferida com gangrena. Eu preferia colocar um alce decapitado no meu carro. A Bentley precisa tartar disso logo e, aproveitando, ela também precisa fazer algo sobre os embaixadores da marca. Resumindo, da próxima vez que um jogador de futebol de um time de Manchester entrar em uma de suas concessionárias, a empresa deveria lhe dar um cheque de 200 000 libras (540 000 reais) e lhe pedir para comprar um carro em outro lugar.

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