Já faz algum tempo que os carros elétricos viraram realidade na Europa. Embora ainda não ofereçam infraestrutura adequada para assistir os donos deste tipo de veículo (a estimativa é que hoje existam 64 mil pontos de recarga espalhados pelo mundo), os europeus estão se mexendo e aprovaram uma resolução que exige uma grande ampliação no número de estações de carregamento até 2020, quando 10 milhões de veículos deste tipo podem estar circulando pelo continente. No Brasil a situação é completamente diferente. Sem uma política de incentivos à comercialização de carros elétricos, até agora o país acompanha as novidades da indústria de longe.
Nenhuma montadora torce tanto por um desfecho favorável quanto a Nissan. A empresa é uma das que mais investem na propulsão elétrica em praticamente todos os mercados onde atua. No Brasil, a empresa iniciou um programa piloto de táxis elétricos em junho de 2012, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A capital paulista deu o pontapé inicial com dois veículos Leaf e a Cidade Maravilhosa aderiu ao projeto com outras duas unidades no começo de 2013. Hoje a frota de “táxis verdes” tem 25 veículos, sendo 10 deles em SP e os outros 15 no Rio. Além desta iniciativa, neste ano a marca trouxe para cá um protótipo da van elétrica e-NV200 para realizar testes de durabilidade. O furgão passou quatro semanas encarando as temperaturas escaldantes das ruas cariocas, prestando serviços para a FedEx – a empresa de logística é parceira global da Nissan e atualmente tem 167 veículos elétricos e 365 híbridos espalhados por países como Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, China e Brasil.
Com a promessa da Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) de entregar ao governo brasileiro uma proposta para viabilizar a venda e futura produção local de carros elétricos, o país pode recuperar o tempo perdido. Dividida em três etapas, a proposta inclui a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industralizados, que atualmente é de 25%), a nacionalização de componentes e, enfim, a produção local. Se tudo correr como desejado, em seis anos veríamos carros elétricos e híbridos sendo fabricados aqui. Ainda não há definição de quando (e se) esta proposta realmente será aprovada, mas a julgar pelas declarações do presidente da Anfavea, Luiz Moan, o governo pode dar o sinal verde a qualquer momento. “A negociação está adiantada, agora é uma decisão por parte do governo”, disse o executivo à Agência Estado no fim de fevereiro.
Para comentar sobre os planos da marca em um cenário mais favorável aos carros elétricos, QUATRO RODAS falou com Anderson Suzuki gerente responsável pelo programa de veículos elétricos da Nissan do Brasil. Em entrevista exclusiva, o executivo afirmou que a empresa pensa seriamente em vender automóveis de passeio deste tipo no Brasil, desde que o governo colabore também.
“Nossos programas piloto (como o de táxis) servem não só como um teste para o mercado, mas também como ferramenta para iniciar as negociações com as autoridades locais para conseguir incentivos para vender carros elétricos. Foi o que aconteceu nos EUA, onde obtivemos benefícios suficientes para comercializá-los por um preço aceitável. No Brasil, tudo depende da concessão dos incentivos (por parte do governo). A partir daí, poderemos tentar reduzir o valor dos carros. Quanto maior forem os incentivos, mais competitivos os preços serão”, afirma.
Suzuki acredita que a falta de pontos de recarga para carros elétricos no país não atrapalharia um possível crescimento deste tipo de veículo. “A infraestrutura acaba crescendo proporcionalmente à frota circulante. É claro que a quantidade de carregadores, especialmente os rápidos (que carregam 80% em 30 minutos), só aumentará se houver uma frota mínima de carros que justifiquem tamanho investimento. Por isso, quanto mais veículos elétricos estiverem rodando nas ruas, maior será o interesse dos investidores. Afinal, um carregador normal não tem um custo tão elevado para uma empresa (cerca de 40 mil dólares) e vários estabelecimentos, como shoppings e estacionamentos, poderiam investir nisso”.