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Impressões: novo Lancia Ypsilon é um Peugeot 208 com personalidade e luxo

Stellantis relança a marca que parecia condenada a desaparecer. E o primeiro modelo é o novo Ypsilon, releitura italiana do Peugeot 208

Por Joaquim Oliveira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 set 2024, 11h08 - Publicado em 30 set 2024, 11h00
lancia ypsilon
Hatch foi desenvolvido na mesma plataforma de outros compactos da Stellantis (Divulgação/Quatro Rodas)
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Quando o português Carlos Tavares assumiu o comando do Grupo Stellantis, muitos pensaram que as marcas que nada acrescentavam (ou que acumulavam prejuízos) seriam desmanteladas. Puro engano. Revigoradas as francesas – Peugeot e Citroën – e a alemã Opel, seguiram-se as italianas com forte identidade. Primeiro, a Alfa Romeo, e agora a Lancia, que se manteve, nestes últimos anos, em estado vegetativo e com atividade apenas na Itália.

De 300.000 unidades/ano, vendidas na Europa no início dos anos 1990, o volume despencou para cerca de 100.000 no início dos anos 2000. A partir de 2017, a Lancia manteve apenas o modelo Ypsilon, na Itália.

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Dianteira: máscara com acabamento preto brilhante desenha a letra “Y” (Divulgação/Quatro Rodas)

Recorrendo ao fértil banco de órgãos do grupo de 14 marcas que lidera, Tavares e o novo CEO da marca, Luca Napolitano, decidiram em 2021 que o Ypsilon seria o carro que representaria o renascimento da Lancia.

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O novo Ypsilon estreia no mercado italiano inicialmente numa edição limitada de 1.906 unidades – em referência ao ano de fundação da Lancia – apenas na versão elétrica chamada Cassina. No fim do ano chegará uma híbrida leve, com oferta regular.

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Traseira: lanternas circulares serão sinal de identificação de dia e de noite (Divulgação/Quatro Rodas)

O Ypsilon utiliza a plataforma CMP (com o prefixo “e” no caso das versões elétricas), a mesma dos modelos compactos do grupo (Opel Corsa, Peugeot 208, Citroën C3 etc.). O design tem forte personalidade, fazendo jus à tradição da Lancia. A traseira é especialmente marcante, com lanternas redondas elevadas, garantindo que o Ypsilon seja reconhecido de dia ou de noite. Na frente sobressai a máscara negra acima dos faróis.

O mesmo esforço de diferenciação foi feito no interior, ainda que aqui se note mais a presença de peças que conhecemos de outros modelos do grupo. É o caso dos botões dos modos de condução e da transmissão, usados em praticamente todas as marcas e numa boa vintena de modelos.

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Sofisticação: hatch tem teto e colunas pretos e maçanetas traseiras embutidas (Divulgação/Quatro Rodas)

Há duas telas digitais de 10,25” lado a lado. A da esquerda, para a instrumentação; a da direita, para a central multimídia. O destaque é o novo sistema S.A.L.A. (Sound Air Light Augmentation), que reúne as funções de som, climatização e iluminação, personalizáveis e com comandos de voz. Mais tarde, o sistema estará disponível com inteligência artificial ChatGPT, diz a Stellantis.

Abaixo da central, há uma fila de botões físicos para a climatização e uma mesa que serve para colocar objetos como celular, chaves ou carteira, por exemplo. É uma solução original, mas peca por não ter revestimento suave (exceto na versão Cassina, com acabamento que imita couro), o que faz com que os objetos se movimentem e gerem ruídos. Só a metade que serve de base para carregamento de celular é emborrachada. Sob a mesa estão as portas USB, escondidas.

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Apesar do estilo próprio, é possível reconhecer componentes de carros de outras marcas (Divulgação/Quatro Rodas)

Os bancos – revestidos por uma espécie de camurça, que lhes confere um aspecto premium – são muito confortáveis, mas tem-se a impressão de que podem ficar demasiado quentes no verão. Os materiais de revestimento são de toque duro e, na unidade testada, ainda pré-série, segundo a fábrica, notavam-se algumas imperfeições no acabamento. A Lancia promete que essas falhas não existirão nas versões de produção em série.

O acesso aos lugares traseiros não é muito amplo, tanto pelo ângulo de abertura das portas como pelo tamanho da abertura. Porém, dois adultos com 1,85 metro terão espaço suficiente no comprimento e na altura, mas os acanhados 125 cm de largura no banco traseiro comprometem a acomodação de um terceiro ocupante, até porque o túnel central é volumoso.

O porta-malas acomoda 309 litros nesta versão elétrica (352 l no híbrido leve), o mesmo volume disponível no Peugeot e-208 e Opel Corsa Electric.

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As saídas de ar, no frontal, são recurso já visto em alguns carros da Audi e da Honda (Divulgação/Quatro Rodas)

O teste do Ypsilon elétrico foi feito na região de Turim. Os engenheiros italianos fizeram uma calibragem específica da suspensão (que tem eixo rígido na traseira) e usaram barras estabilizadoras um pouco maiores, para privilegiar a estabilidade, mas sem deixá-lo demasiadamente duro na absorção de pisos irregulares.

Isso foi ajudado pelo aumento das bitolas em 2,4 cm, em relação às do Peugeot 208 e do Opel Corsa. A direção foi afinada para dar uma resposta mais direta, mostrando-se suficientemente precisa e rápida. O que deixou melhor impressão foi o isolamento acústico, favorecido pela colocação de materiais fonoabsorventes no capô, portas e caixa de rodas.

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Bancos confortáveis são revestidos com material de boa qualidade (Divulgação/Quatro Rodas)
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(Divulgação/Quatro Rodas)

O motor elétrico dianteiro fornece o mesmo rendimento de 156 cv/26,5 kgfm já empregado em outros modelos da Stellantis, que se revela muito ágil e rápido em cidade. Acelerações e retomadas são muito satisfatórias, enquanto a velocidade máxima de 150 km/h parece um pouco limitante, ainda que seja idêntica à dos demais elétricos da Stellantis com este sistema de propulsão.

Os 156 cv ficam às ordens do motorista no modo de condução Sport, porque em Eco há apenas 109 cv e, em Normal, 136 cv. As prioridades são outras. Quando soltamos o pedal do acelerador, existe uma regeneração residual, que pode ser aumentada se pressionarmos o botão “B” no seletor da transmissão. Não há sistema one pedal drive, em que o carro se imobiliza por completo pela frenagem regenerativa mais elevada. O pedal do freio transmite uma certa hesitação na fase inicial do curso.

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Console concentra os comandos do câmbio, incluindo a tecla “B” para aumento
da regeneração de energia, e o seletor dos modos de condução: Eco, Sport e Normal (Divulgação/Quatro Rodas)

A ricamente equipada edição limitada Cassina custa 40.000 euros, na Itália, o equivalente a R$ 245.000. Depois de renascer com o Y, a Lancia tem planos de devolver à vida outros modelos icônicos da marca, caso do Gamma, em 2026, e do Delta, em 2028 (será que teremos uma versão 4×4 Integrale?). A meta é que até 2035 toda a linha seja 100% elétrica. Infelizmente, a Stellantis não tem planos de trazer a marca para o Brasil. Mas pretende retomar a tradição da marca no rali. O regresso será na categoria de iniciação Rally4, com o Ypsilon Rally4 HF, equipado com motor 1.2 turbo, de três cilindros, com 212 cv, tração dianteira e diferencial autoblocante mecânico. Apesar da ausência das pistas, a Lancia ainda é a marca mais bem-sucedida em ralis, tendo 15 campeonatos mundiais.

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A marca Lancia tem grande destaque. Lanternas trazem a letra “Y” deitada (Divulgação/Quatro Rodas)
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(Divulgação/Quatro Rodas)

Veredicto Quatro Rodas

A Lancia teve um passado glorioso e seu renascimento, ainda que com um carro do segmento de entrada, não deixa de ser uma boa notícia para seus fãs.

Ficha técnica – Lancia Ypsilon

Preço: 40.000 euros (R$ 245.000)
Motor: elétrico, dianteiro, síncrono de ímãs permanentes, 156 cv, 26,5 kgfm
Baterias: íons de lítio, 54 kWh; potência máxima 11 kW (AC), 100 kW (DC)
Câmbio: automático, 1 m., dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido(tras.)
Pneus:  205/45 R17
Dimensões: comprimento, 408 cm; largura, 176,8 cm; altura, 144 cm; entre-eixos, 254 cm; peso, 1.584 kg;  porta-malas, 309 l
Desempenho: 0 a 100 km/h, 8,2 segundos; velocidade máxima de 150 km/h; consumo, 14,5 kW/100 km; autonomia, 403 km; recarga, 5h45 (0 a 100%, AC), 10 min (0 a 80%, DC)

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