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Dirigimos! Tesla Cybertruck representa o fim do mundo como conhecemos

Nenhum outro veículo teve percepção tão polarizada quanto a Tesla Cybertruck. Dirigimos a picape elétrica na Flórida e ainda estamos perplexos

Por Joaquim Oliveira/Press-inform
12 out 2024, 15h00
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  • Quando não estavam ocupados lutando contra os índios, os primeiros colonizadores da América do Norte usavam carroças puxadas por animais para transportar suas cargas. Evoluíram para vagões cobertos e, mais tarde, para as picapes. Bem mais tarde, diga-se, pois foi no início do século XX  que Henry Ford criou a primeira picape baseada em um Modelo T.

    Hoje as picapes são um patrimônio cultural dos Estados Unidos tão relevante quanto hambúrgueres, beisebol ou Buffalo Bill. Pela linha de descendência, a Ford F-150 ainda tem cerca de 1.000 unidades sendo vendidas diariamente por lá. Mas a Tesla Cybertruck ignora todas as tradições.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    A Cybertruck é, sim, um dos veículos mais esperados do terceiro milênio. Não é um carro amigável. Aqueles traços humanos composto por faróis, o radiador e para-choque não existe. Também não é feita de chapa metálica dobrada, mas de aço inoxidável estampado. Supostamente não enferruja – embora vários vídeos mostrem o contrário – e não precisa ser pintado. Fica com um ar cool e evita um estágio de produção bem caro, além de aumentar a reputação de Musk como um “matador de custos”.

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    O problema é que o aço inoxidável é difícil de dobrar e a Tesla Cybertruck é, portanto, mais angular do que qualquer outro carro, quase como se uma criança pequena o tivesse feito de papelão. Ainda assim, é notada e atrai um cliente muito diferente dos milhões que dirigem Ford F-150, Chevrolet Silverado e RAM 1500 por todos os Estados Unidos, onde ele é produzida – em Austin, o coração do Texas.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)
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    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    É difícil imaginar que fazendeiros e criadores de gado, perfuradores de petróleo e comerciantes possam aderir a tal veículo. É mais provável que haja mais profissionais urbanos, executivos de alto nível típicos do século XXI atrás do volante do Cybertruck, devido à sua natureza de veículo elétrico e não apesar mas por causa de sua aparência desconcertante.

    Claro, a Cybertruck polariza. Visualmente, é uma mistura de caminhonete off-road quadrada e veículo do filme Mad Max, de quase 5,70 m de comprimento. Ainda é menor que as picapes mais ortodoxas, que beiram os 6 m.

    Estamos indo em direção ao Parque Nacional Everglades e, como as estações de recarga são muito mais raras lá do que jacarés, fazemos um pit stop no último supercharger antes de entrar no Parque Nacional. Depois de uma investigação para encontrar a tampinha da tomada de recarga, bem camuflada no arco da roda traseira esquerda em plástico escuro, iniciamos a recarga.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)
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    O design limpo, angular e em grande escala é tudo menos discreto. Antes mesmo de entrar na picape percebemos que também não é prático. As portas não têm maçaneta, é preciso pressionar sensor na coluna central para destravar e, em seguida, puxar a porta pela borda. O carro fica com mais impressões digitais que a tela do seu smartphone.

    A Cybertruck não é mais aconchegante por dentro. O conceito de funcionamento é típico da Tesla, sem comandos físicos. Eles dispensam até a alavanca de seta e a alavanca seletora de marchas (use a tela, por favor!). Só existem botões no volante, quase todo o resto tem que ser controlado pela tela central de 18,5 polegadas, seja o intervalo do limpador de para-brisa ou a direção das saídas de ar.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    Pelo menos a Cybertruck é generosa tanto em espaço para as pernas quanto para os ombros e o que falta em altura na segunda fileira é, pelo menos visualmente, compensado pelo grande teto panorâmico. Quem se senta na segunda fileira de bancos tem sua própria tela de 9,4 polegadas.

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    Com 95% de carga na bateria (com robustos 123 kWh de capacidade), partimos para o sul com a caçamba aberta. A tela central é rápida a informar que a autonomia será reduzida em 25 milhas (cerca de 40 km) pelo fato de a aerodinâmica ser prejudicada. Então, melhor fecha a persiana elétrica novamente e acostumar ao fato de não ser mais possível ver o que está atrás da Cybertruck através do inútil retrovisor interno, que apenas cumpre a lei.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    Cargas sensíveis à poeira devem ser levadas para o interior, porque quando fechada a caçamba não é completamente selada. A persiana só protege de olhares curiosos e de acessos mais rápido do que o desejado. Há uma “caixa-forte” abaixo da caçamba, onde podem ser transportados alimentos ou bebidas no gelo, pois é vedado contra intempéries e possui um orifício de drenagem na parte inferior.

    Ao chegar ao cascalho da Loop Road na Reserva Nacional Big Cypress, vem a primeira impressão que surpreende: esse monstro elétrico, pesando mais de três toneladas, é bastante confortável para dirigir sobre os inúmeros buracos em nosso caminho, com facilidade e um certo relaxamento em um primeiro momento.

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    (Divulgação/Tesla)
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    A suspensão usa molas pneumáticas, que permitem variar a altura do solo em até 10 cm, sendo que sua altura padrão é 33 cm. Infelizmente, a suspensão se revelou menos capaz de lidar com irregularidades mais altas e mais duras do que os buracos nas trilhas em Everglades e, em algumas ocasiões, a viagem mais pareceu uma saída a galope em um cavalo selvagem.

    Quanto ao ruído, seria quase como uma sala de estar não fosse alguns ruídos parasitas deste carro com 15.000 milhas. Parece que parte do acabamento está afrouxando precocemente, mas quem realmente sofre é o limpador de para-brisa, o maior jamais montado em um carro de produção. É tão grande que balança junto com o carro e o motorista sente isso. Os turistas que sacam suas câmeras no meio aos Everglades para fotografar o carro certamente não imaginam que a Cybertruck é assim.

    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    O problema é que, mesmo nos EUA, essa nave espacial móvel continua sendo uma raridade. Não passa despercebida em lugar algum, nem na selva e nem de volta à civilização. Tão rara que quando avistam outra os motoristas até se cumprimentam.

    Quanto à parte técnica, seus 612 cv gerados por dois motores proporcionam um 0 a 100 km/h em 4,3 segundos e máxima de 180 km/h. Ainda existe uma versão com três motores e 845 cv e que chega aos 210 km/h. Mas não dá para extrapolar, pois a polícia local é tão rígida quanto a carroceria da Cybertruck e a máxima é de 130 km/h.

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    Tesla_Cybertruck
    (Divulgação/Tesla)

    Como se um volante quadrado não fosse suficientemente incomum, a Tesla também usa aqui a tecnologia steer-by-wire, o que significa que não há conexão mecânica com as rodas. Em vez disso, a direção é controlada eletricamente e multiplicação é ajustada conforme o ângulo de direção aumenta, ao mesmo tempo que as rodas traseiras também giram (até 10°), o que gera uma sensação contra natura. Isso, ao menos, melhora a manobrabilidade.

    Após 201 km, o supercharger em Coral Terrace, distrito ao sul de Miami, é alcançado com 52% de carga. Significa que a autonomia real é bem mais modesta do que os 547 km anunciados. A Tesla oferece um “powerbank” para ser instalado na caçamba para aumentar a autonomia em 200 km, mas ocupa dois terços do compartimento. E respeita a tensão do sistema elétrico, que é de 800V.

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    (Divulgação/Tesla)

    Poderia dizer que a tensão a bordo foi alta devido às idiossincrasias da Tesla Cybertruck, mas isso não seria um exagero. Isso porque não há sistemas no carro funcionando com os tradicionais 12V, tudo é 48V para reduzir a espessura dos fios. Existem outros carros com redes de 48 V, mas para componentes muito específicos, como barras estabilizadoras ativas ou os sistemas híbridos leves.

    A polêmica recém-chegada picape está sob muita pressão, pois as listas de espera outrora interminável é coisa do passado, mesmo com um ritmo de produção muito lento. Fãs da Tesla relatam uma queda nos preços de até 10.000 dólares americanos por semana em algumas ocasiões, acabando com a especulação. Chegaram a cobrar 150.000 dólares na versão básica, de 99.990 dólares. Os clientes tão ricos quanto excêntricos não poderiam estar mais felizes.

    Veredicto – “Disruptiva” é uma palavra presente no vocabulário de quem tente a gostar da Tesla Cybertruck e cabe como uma luva para defini-la.

    Ficha técnica – Tesla Cybertruck

    Preço: 99.990 dólares (R$ 552.900)
    Motor: elétrico, 2 (diant. e tras.), síncrono de ímãs permanentes; 612 cv; 102 kgfm
    Baterias: íons de lítio, 123 kWh; pot. máx., 22 kW (AC), 250 kW (DC)
    Câmbio: automático, 1 marcha, 4×4
    Direção: elétrica by wire
    Suspensão: duplo A (diant.), multibraços (tras.)
    Freios: disco ventilado nas quatro rodas
    Pneus: 285/65 R20
    Dimensões: compr., 568,3 cm; larg., 220,1 cm; alt., 179,1 cm; entre-eixos, 344 cm; peso, 3.050 kg; cap. de carga, 1134 kg
    Desempenho*: 0 a 100 km/h, 4,3 s; veloc. máx., 180 km/h; autonomia,547 km
    *Dados de fábrica

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