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O dia que não me tornei repórter da QUATRO RODAS

O colunista relembra a sua trajetória até finalmente começar a colaborar pra revista

Por Charles Marzanasco
Atualizado em 16 out 2021, 12h19 - Publicado em 16 out 2021, 07h33

Reprodução Quatro Rodas

Antes de trabalhar na QUATRO RODAS, eu escrevia e editava um caderno semanal de carros e corridas no jornal A Gazeta Esportiva, quando, em meados de 1977, fui chamado pelo chefe de reportagem da revista, o jornalista Emilio Camanzi, para ocupar uma vaga de repórter na editoria de automobilismo.

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Ainda no que seria o processo de seleção, o chefe me pediu para escrever duas matérias para avaliação. Assim foi feito e, pelo que me disse o Camanzi, fui aprovado.

Praticamente no dia em que seria minha contratação, porém, fiquei sabendo que a vaga tinha sido preenchida por um repórter da própria redação, que pediu para trocar de editoria.

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Depois de me tornar piloto de competição, em 1974, e começar a escrever sobre carros e corridas, o meu sonho era trabalhar na QUATRO RODAS. Por isso, fiquei sem chão ao receber essa notícia.

Minha frustração foi grande. Mas lembro, como se fosse hoje, quando o Camanzi me chamou para conversar, numa sala do antigo prédio da Editora Abril, na Marginal Tietê, em São Paulo (SP).

Eu já me imaginava fora da revista, mas ele disse que eu poderia colaborar na editoria técnica, que fazia os testes. Foi um momento mágico para mim. Saí daquele encontro vibrando como se tivesse assistido a um gol do meu time (São Paulo Futebol Clube) anulado pelo juiz, mas validado pelo VAR.

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Não sabia nem o que pensar. Seria repórter de QUATRO RODAS. Iria trabalhar diretamente com o Emilio Camanzi, um profissional que eu já admirava naquele tempo, e o famoso editor Claudio Carsughi, que naquela época também era comentarista de esportes da rádio Jovem Pan.

O Carsughi era conhecido como o homem dos números dos jogos de futebol na Jovem Pan. Ele foi pioneiro ao fazer a estatística das partidas, dando informações como a quantidade de chutes a gol de cada equipe, coisa que hoje toda rádio e tevê informam durante as transmissões.

Na Gazeta, eu estava acostumado a testar carros e motos em estradas relativamente perigosas, em razão do movimento. Eram outros tempos. Minhas estradas preferidas ficavam no litoral sul paulista, como a Pedro Taques, perto da cidade de Itanhaém, e a Rio–Santos, na altura da Riviera de São Lourenço, em Bertioga, já na fronteira com o litoral norte.

QUATRO RODAS, porém, utilizava uma via bem mais segura, localizada em Pirassununga, no interior do estado, próxima à base da Academia da Força Aérea Brasileira, onde desde 1982 ficam os pilotos do Esquadrão de Demonstração Aérea, mais conhecido como Esquadrilha da Fumaça. Essa estrada tinha cerca de 2 quilômetros de reta plana e pouco movimento.

Os cuidados da equipe com segurança foi algo que me impressionou, assim que cheguei. Os jornalistas/pilotos usavam até macacões de proteção durante os testes. Lembro que um desses macacões serviu direitinho em mim e foi muito útil já na minha estreia porque me protegeu em um tombo que levei com uma das motos que testava naquele dia.

Um tombo logo na estreia. Foi meu batismo. Era um comparativo entre os modelos de 125 cm³: Harley-Davidson/Motovi SS, Honda CG e ML e Yamaha RX. Meio distraído por causa da baixa velocidade, eu caí com a ML quando freei a 40 km/h! Um dos diferenciais dessa moto era o freio a disco na dianteira, o que exigia mais cuidado que os freios a tambor das outras motos.

Trocar as estradas do litoral pela do interior teve outros ganhos menos ligados ao trabalho, propriamente dito. Uma das coisas bacanas que descobri quando fazia os testes de consumo percorrendo o roteiro elaborado pelo genial Carsughi, que reproduzia diferentes condições de uso e que podiam ser repetidas a cada medição, foi um restaurante muito bom, no km 183 da Rodovia Anhanguera, na altura da cidade de Leme. Na época, ele se chamava Casa Suíça, hoje é Rancho Empyreo, mas é o mesmo restaurante.

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Passei a frequentar o lugar, que fazia um filé maravilhoso, entre outras comidas deliciosas. Certa vez, eu e os colegas de redação estávamos lá almoçando e eis que aparece o cantor português Roberto Leal, junto com a esposa.

Ele viu um dos nossos carros, ficou sabendo que éramos da QUATRO RODAS e veio conversar conosco. Ficamos batendo papo, fizemos fotos com o cantor e dele com um dos carros, que ele pediu para ver de perto e se sentar ao volante. Se fosse hoje, a uma hora destas, as imagens já estariam todas no Instagram.

Esse restaurante virou um dos meus preferidos. Tanto que, anos depois, já nos meus tempos de assessoria de imprensa na Audi, voltei lá algumas vezes. Em uma delas por dias seguidos, dentro de uma atividade que organizei para jornalistas dirigirem o modelo de luxo Audi A8.

Testes Quatro Rodas
Trena de 100 m para medir as frenagens (Quatro Rodas/Quatro Rodas)

Saía à noite da sede da Audi, em São Paulo, para que os colegas pudessem apreciar a qualidade de iluminação dos faróis e a visibilidade do painel de instrumentos, que era único e mais parecia o cockpit de um avião. Rodávamos quase 200 quilômetros, para conhecer o carro e também ir jantar naquele restaurante suíço. Depois, retornávamos à capital.

Mas, voltando aos bons e velhos tempos de repórter de QUATRO RODAS, naquela época os instrumentos de medição eram rudimentares, quando não improvisados. Para aferir o velocímetro, percorríamos uma distância conhecida e medíamos o tempo em um cronômetro manual. Depois marcávamos os números reais no velocímetro usando um papel adesivo.

Para as medições de frenagens, havia uma trena de 100 metros, que era esticada do ponto de início da manobra até o local onde o veículo efetivamente parava. E o consumo era apurado com uma bureta – um tubo de vidro graduado que enchíamos de combustível. As marcas eram obtidas pela média do consumo registrado em diferentes velocidades.

Nas motos, os recursos mais high-tech que havia eram os rádios de comunicação. O piloto levava um preso ao corpo com fita crepe e outro ficava com o cronometrista, que, à margem da pista, acionava o instrumento sob o comando do colega.

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Sempre me lembro do fotógrafo Heitor Hui, que, ao ver aqueles equipamentos todos usados nos testes, brincava dizendo que a Nasa estava trabalhando. Sem saber, Hui foi precursor do bordão tão popular hoje em dia que diz “agora a Nasa vem”.

Eram tempos românticos, em que, sem os recursos que existem hoje, nós buscávamos entregar o melhor para os leitores, caprichando nas medições e repetindo os ensaios diversas vezes para atestar os resultados. Dava trabalho, mas era bom. Tempo bom que não volta nunca mais, como diz o rapper Thaíde.

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