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Valeu, equipe B da BMW

Valeu, equipe B da BMW

Por Redação
Atualizado em 19 jan 2023, 12h16 - Publicado em 30 jan 2015, 09h00

Sempre se falou que as tecnologias e ideias desenvolvidas na Fórmula 1 melhoram os automóveis que dirigimos no dia a dia. Tá bom. Então seu Nissan Juke tem pneus que perdem aderência depois de rodar 50 km? Se o defletor traseiro do seu Toyota GT86 cair, você sofrerá um acidente? Seu Audi A3 pode receber uma manutenção enquanto você está dirigindo numa rodovia? Você tem, é claro, freios ABS, sensor de chuva, acendimento automático dos faróis, cintos de segurança com pré-tensionador e um motor de partida. Mas nada disso, nada do que realmente interessa tem vindo da Fórmula 1. E ainda há mais. Se a F-1 estivesse mesmo desenvolvendo tecnologias que chegassem aos carros de rua, seria de esperar que Renault, Ferrari e Mercedes-Benz estivessem na vanguarda da tecnologia híbrida. Só que elas não estão.

A empresa automotiva que está na vanguarda da tecnologia híbrida hoje é a BMW, que não está envolvida na F-1. Seu pequeno i3 é intrigante e um dos carros que fiquei mais ansioso para conhecer foi o i8, que em todos os aspectos é comparável ao Porsche 911. Só que fazendo 57 km/l. Minha preocupação, e eu já falei isso, é que a BMW, como todas as outras empresas do mundo, possui um pool de talentos limitado. E, se os melhores e mais brilhantes foram designados aos projetos de híbridos, temos de supor que sua equipe B é que está encarregada de desenvolver o carro que ilustra este artigo, o novo M4. Isso significa que ele não é tão bom quanto poderia ser?

Minha reação inicial quando o carro foi entregue foi um ligeiro mal-estar. Isso porque ele foi pintado da cor mais revoltante que já vi. A BMW a chama de amarelo Austin, sugerindo que ele teria sido adequado a um Austin Allegro nos velhos tempos. E teria sido. Mas amarelo Diarreia de Bebê chega mais perto da verdade. É difícil julgar um carro quando ele tem uma cor tão feia. Para piorar as coisas, as outras cores não são muito melhores. O jeito, acho, é escolher o preto.

Há outra vantagem nisso. Se o carro for preto, você não percebe logo de cara que os designers não se tocaram da hora certa de sair da prancheta. Cada detalhe é enfeitado com outros detalhes, e o  resultado final é exagerado. Os retrovisores externos são especialmente irritantes. Provavelmente a empresa os desenhou assim para que o M4, um cupê de duas portas, se destacasse em relação ao M3, sedã de quatro portas, mas não sei se era necessário. Depois de um tempo eu consegui tirar a cor e o design da minha mente e me concentrar no carro, que no papel parece um passo para trás em relação ao seu predecessor, chamado de M3 cupê. Esse carro tinha um V8 glorioso que soltava um grito agudo à medida que as rotações subiam e então uivava em uma orgia que soava como um êxtase ao se aproximar da linha vermelha das rotações.

Bem, você pode esquecer tudo isso. O modelo novo é equipado com um seis-em-linha  turboalimentado. Turbo? Em um carro M? É como colocar molho de salada no sorvete. No entanto, esse tipo de motor e a direção com assistência elétrica são necessários hoje em dia, se um carro quiser atender às normas de emissões de poluentes da União Europeia. Mas não é o fim do mundo, porque você tem ainda mais potência do que no V8 antigo e um enorme aumento de torque. A parte ruim é que você perde aquele som nas altas rotações. E a resposta do acelerador é um pouquinho menos firme, um problema que é tornado pior por um câmbio automatizado de sete marchas, que não oferece nenhum “creep” – ao contrário de um automático padrão, com conversor de torque, o carro não se mexe até que você coloque seu pé no acelerador. O que faz com que estacioná-lo seja um pesadelo.

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Enquanto estamos no câmbio, recebi incontáveis mensagens e alertas de que eu não poderia desligar a ignição até que colocasse a alavanca de câmbio na posição Park. Mas, até onde pude ver, não existe Park. O que você tem de fazer para resolver o problema é ficar mexendo a alavanca de um lado para o outro, enquanto pragueja.

Assim, para recapitular, as cores são horríveis, o estilo é exagerado, os espelhos retrovisores externos são irritantes, a transmissão é imperfeita, o motor é um passo atrás e estacionar o veículo é difícil. Parece, então, que a equipe B da BMW não foi capaz de lidar com as normas de emissões e, como resultado, o carro não é tão bom quanto o modelo anterior. Sim, e tem mais.

O M4 não é um carro particularmente pesado. Muito plástico e fibra de carbono são usados para aliviar o peso e, consequentemente, o consumo de combustível. Mas a sensação que ele passa, quando você anda, é como se ele pesasse mais do que um caminhão. Você tem realmente de usar força para girar o volante, e, quando passa por um buraco, há a sensação de simplesmente ser esmagado.

Existem, no entanto, algumas coisas boas. É um carro muito fácil de usar: todos os sistemas de comando são tão naturais quanto respirar. Ele também é equipado com bancos fabulosos. E eu adorei poder selecionar músicas do meu iPod a partir de uma lista mostrada no head-up display. Ah, e quase esqueci: ele é maravilhoso de dirigir.

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Sim, o motor tem uma personalidade diferente do velho V8, mas, se aproveitar o enorme torque em vez de se concentrar no pico da potência, você terá toda a força que desejar e controle total sobre o que as rodas traseiras estão fazendo. Movimentos milimétricos do seu pé direito são traduzidos instantaneamente em mudanças no comportamento do carro, e você pode sentir tudo isso na direção, mesmo que ela não esteja conectada de verdade às rodas. O diferencial é fantástico, os freios são maravilhosos, o ABS é perfeito e o ruído do motor é de um grande baixo-barítono, não de uma válvula de escape ativada por computador. E ele também é rápido. Os números não contam toda a história, porque, quando você coloca tudo em modo Sport Plus e crava o pé no acelerador, o carro dispara como um tubarão provocado. Sinceramente, fazia meses que não dirigia um automóvel que despertasse tanto prazer quanto este BMW.

Houve um tempo, é claro, em que o M3 foi sequestrado pelos executivos jogadores de squash do país. Pessoas de terno que não sabiam realmente o que o carro podia fazer, mas sim que ele simplesmente lhes dava status. Era um acessório, como óculos de sol da Oakley. Hoje essas pessoas estão dirigindo rápidos Audi e, em certa extensão, Mercedes AMG. O que significa que o M3 e o M4 podem ser novamente adquiridos por pessoas que simplesmente querem um carro realmente bom.

Eu apenas gostaria que a equipe A da BMW estivesse envolvida no seu design. Porque tenho certeza de que os designers teriam criado espelhos retrovisores externos menos idiotas que esses e garantiriam que algumas cores pelo menos não causassem mal-estar físico.

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