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Há 40 anos, QUATRO RODAS fazia história com uma maratona de etanol

Quatro carros movidos com o inédito combustível fizeram uma prova de longa duração para avaliar a eficiência do "álcool"

Por Rodrigo Ribeiro
Atualizado em 19 ago 2019, 14h23 - Publicado em 5 jul 2019, 07h00
Todo o teste envolveu uma equipe com mais de 180 pessoas (Acervo/Quatro Rodas)

Em 1979 o etanol, à época chamada de álcool, ainda era só uma promessa como alternativa à cara e poluente gasolina.

Para piorar, motoristas e mecânicos desconfiavam da durabilidade dos motores feitos para queimar o biocombustível, que ainda não era vendido ao público e ficou restrito aos carros governamentais.

Os veículos foram conduzidos pelos pilotos das próprias fabricantes (Acervo/Quatro Rodas)

Para descobrir as vantagens e desvantagens do etanol, QUATRO RODAS promoveu um teste histórico e inédito.

Foram convocados os primeiros carros adaptados ao combustível para uma prova de durabilidade, onde os veículos seriam testados até os 30 mil quilômetros ininterruptamente.

Os quatro carros passaram por revisões expressas ao longo do teste (Acervo/Quatro Rodas)

As quatro grandes fabricantes da época foram convidadas, mas somente Volkswagen e Fiat atenderam ao pedido. A marca alemã escalou o Passat 1.5, enquanto a novata italiana convocou o pioneiro 147 1.3, primeiro carro de produção a etanol do Brasil.

Apoio público

Governo e prefeitura de SP se envolveram no teste interessados na avaliação do etanol (Acervo/Quatro Rodas)

A forma mais adequada de rodar 30 mil km sem parar é um ambiente controlado, e logo o autódromo de Interlagos foi escolhido para a prova. Vale lembrar que, em 1979, a pista ainda tinha o traçado original, com 7.863 m (o atual tem 4.309 m).

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Sem iluminação na pista, os carros contavam apenas com seus faróis principais e os de neblina (Acervo/Quatro Rodas)

Mesmo assim, seriam necessários 15 dias seguidos de maratona para alcançar o índice. Isso exigiu uma equipe de 181 pessoas, envolvendo, pilotos, mecânicos, seguranças, policiais, médicos e jornalistas.

VW e Fiat cederam três carros cada, sendo um de reserva (Acervo/Quatro Rodas)

O direito de uso do autódromo público por mais de duas semanas foi obtido após uma negociação com a Secretaria Municipal de esportes, responsável pelo equipamento na época.

Viaturas do corpo de bombeiros e ambulâncias da Secretaria Municipal de Higiene também foram mantidas no local, para atender a qualquer emergência.

Pequeno detalhe

Cada fabricante tinha um box próprio em Interlagos (Acervo/Quatro Rodas)

Além da organização que incluiu da montagem de um restaurante até a contratação de seguranças particulares, QUATRO RODAS precisou lidar com uma pequena dificuldade: o etanol não era vendido naquela época.

O combustível ainda estava em testes, ficando restrito a veículos usados pelo governo. Por conta disso a Petrobras (que ainda tinha acento naquela época) cedeu 15 mil litros e duas bombas para reabastecer os quatro carros usados no teste.

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O reabastecimento dos veículos ficou por conta da Petrobras (Acervo/Quatro Rodas)

Também foram adotados cuidados para a manutenção dos veículos, já que eles passariam por revisões: a cada 5.000 mil km, no caso do 147, e a cada 7,5 mil km, no caso do Passat.

Corrosão em prova

Os motores foram desmontados após o teste para avaliar o impacto do etanol no motor (Acervo/Quatro Rodas)

As maiores dúvidas dos especialistas eram sobre como os carros lidariam com o ataque químico provocado pelo etanol. Por conta disso, a Fiat deixou um 147 com peças sem proteção para corrosão e outro com a chamada bicromação.

Nem mesmo pequenas colisões de três carros impediram a conclusão do teste (Acervo/Quatro Rodas)

Ambas as marcas também procuraram avaliar a eficiência dos filtros de combustível, cuja durabilidade era alvo de desconfiança.

Da parte corrosiva, as fabricantes estavam certas: sem proteção, bomba de combustível e (principalmente) carburador sofriam com o desgaste provocado pelo etanol.

Uma chuva intensa atrapalhou a velocidade média do teste por alguns dias (Acervo/Quatro Rodas)

Já o elemento filtrante se mostrou eficaz, fazendo, inclusive, que a Volkswagen voltasse atrás na recomendação de troca a cada 7.500 km.

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Funilaria expressa

A Fiat chegou a trocar o câmbio do 147 em menos de uma hora (Acervo/Quatro Rodas)

Como era essencial que os carros fossem mantidos rodando a maior parte do tempo, todos os imprevistos mecânicos eram resolvidos rapidamente.

Isso incluía a manutenção dos carburadores (algo constante no 147 sem proteção química), ajuste de marcha lenta e distribuidor para todos os veículos e até consertos inusitados.

Técnicos de cada marca faziam a avaliação do veículo sempre que ele parava nos boxes (Acervo/Quatro Rodas)

A quarta marcha (única utilizada ao longo de toda a volta de Interlagos) de um dos 147 quebrou durante o teste. Para agilizar o reparo, os mecânicos da Fiat optaram por trocar toda a caixa.

O detalhe é que isso foi feito em menos de uma hora, índice só encontrado em competições de rali. Pequenas colisões que afetaram três carros também foram reparadas em poucos minutos.

Curiosidades

O controle de cronometragem e reabastecimento gerou folhas que, enfileiradas, tinham 27 metros de comprimento (Acervo/Quatro Rodas)

Para passar o tempo ao longo de cada turno de 2 horas, os pilotos trocavam piadas no rádio usado para comunicação dos veículos, boxes e equipe de apoio.

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A média horária de 5,5 minutos por volta era controlada por uma equipe de cronometragem, e motoristas que andavam rápido ou lento demais eram advertidos.

Disputas informais entre as fabricantes ajudaram a distrair e estimular os funcionários (Acervo/Quatro Rodas)

Mesmo assim, em um dos dias um piloto passou a dirigir cada vez mais devagar. O motivo: o cronômetro embarcado no veículo estava ficando com pilha fraca, “desacelerando o tempo”.

O motor do Passat passou por menos problemas no teste do que o 147 (Acervo/Quatro Rodas)

O controle de tempos e os reabastecimentos eram feitos por uma equipe especializada e gerou páginas suficientes para fazer uma fileira de 27 metros de comprimento.

Por fim, a equipe de cada fabricante era chefiada por um engenheiro da empresa.

Equipes envolvidas até com a Fórmula 1 no Brasil participaram do apoio e cronometragem da prova (Acervo/Quatro Rodas)

O responsável pelos Fiat foi Yutaka Fukuda, pai do consultor de QUATRO RODAS, Fabio Fukuda, e proprietário da oficina que faz o controle e desmonte dos carros de Longa Duração.

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Apelo político

O encerramento do desafio foi concluído após os quatro carros terem rodado, somados, mais de 112 mil km. Todos os veículos foram aprovados, mas as marcas deram atenção especial ao ataque do etanol nos motores.

O fim do teste contou contou com a presença de Roberto Civita, presidente da Editora Abril, e de Paulo Maluf, então governador de São Paulo.

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