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Cilada nas ruas

Soluções ruins para motos transformam o chão em faixa de rolamento... de motociclistas

Por Márcio Curcio
Atualizado em 9 nov 2016, 11h51 - Publicado em 6 abr 2011, 19h02
Cilada nas ruas

Idealizadas num tempo em que as motos eram raras no tráfego, certas soluções viárias, equipamentos de sinalização e de segurança, tornam-se armadilhas para quem pilota moto. Algumas delas podem causar derrapagens e acidentes, outras podem agravar as consequências de um.

Faixas no chão, trilhos, tampas de bueiro, chapas de aço a cobrir valetas inacabadas tornam a via um “sabão” sob chuva. Lombadas e valetas fora de padrões regulamentares são igualmente ameaçadoras. Asfalto fresado à espera de um recapeamento que pode demorar meses, então, nem se fala. Mais perigosos são os obstáculos que podem agravar os resultados de uma queda – mesmo os que estão lá para garantir a segurança, caso de colunas, blocos de concreto e até os guard-rails, criados com a melhor das intenções.

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É fácil encontrar vítimas dessas arapucas. Em menos de uma hora no centro de São Paulo achamos quatro. Émerson Serra, de 35 anos, foi vítima das placas de metal. “Faz uns nove meses. Foi na estrada do Campo Limpo [zona sul da cidade de São Paulo]. Não sei o que estavam consertando. Quando vi, já estava no chão.”

Outro que quase beijou o chão foi Maurício dos Santos, de 29 anos: “A chapa estava na avenida Rebouças [região oeste]. Eu vinha a 60 km/h e levei um susto, por pouco não caí. Eles deviam fazer alguma coisa nessas placas para que não ficassem tão lisas”.

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Menos sorte teve o motofretista Fábio Barbosa, de 24 anos. Ele deslizou com sua Honda Fan 2006 ao frear sobre a faixa de pedestres. “Chovia. A roda dianteira derrapou e fui para o chão. Acabei machucando o queixo, porque estava de capacete aberto. Na moto, tive de trocar o farol e o retrovisor”, diz ele.

FAIXAS DE VIDRO Também vítima da sinalização de solo, Ismair Saraiva, de 29 anos, escorregou e caiu numa travessia de pedestres com sua Yamaha Fazer. “Estava devagar, mas ainda assim o painel da moto quebrou e o guidão entortou”, afirma Saraiva.

Em regra, as faixas de solo são pintadas com material termoplástico (aplicado a quente) e, para ser visíveis à noite, recebem uma camada de esferas de vidro minúsculas em sua superfície. Esse material torna-se escorregadio sob chuva. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) está revisando essa norma. “O que se exige em muitos países é que também se apliquem partículas de vidro não esféricas, para aumentar o atrito. É o que devemos adotar na revisão da norma [NBR 6831]”, afirma o coordenador de estudos de sinalização horizontal da ABNT, Mário Fiamenghi Filho. Ele espera que até abril deste ano a norma seja revisada e acredita em sua publicação ainda em 2011.

Fiamenghi é da opinião que a qualidade do asfalto evoluiu mais que as faixas. “Hoje temos pavimentos com material mais aberto e poroso, aumentando o atrito em dia de chuva. A tecnologia empregada na sinalização ficou atrasada”, afirma ele, referindose às faixas pintadas por extrusão, quando o material termoplástico é aquecido, formando uma camada grossa sobre o piso. Fiamenghi é favorável a aplicações de tinta mais frequentes e em camadas mais finas. “O termoplástico extrudado tem duração de três anos, mas custa três vezes mais que a sinalização com tinta.”

Essa corrente é adotada atualmente pelo grupo CCR, que administra várias rodovias: “Estamos eliminando a pintura extrudada e utilizando tinta à base de água. Com isso há mais integração entre a pintura e o pavimento”, afirma Renato Caldo, gestor da empresa. Ele diz que sinalizações de solo mais largas, como as que trazem o nome de uma cidade ou identificam cabines de pedágio, já recebem partículas de vidro não esféricas para aumentar o atrito.

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Existem faixas de sinalização que, em vez da aplicação por pintura, são cortadas e coladas no local. “Elas oferecem cerca de três vezes mais atrito que as faixas convencionais, porque têm material antiderrapante na composição e partículas de vidro não esféricas em sua superfície”, diz Ricardo China, gerente comercial da Conline, fabrica de faixas desse tipo.

PROTEÇÃO AGRESSIVA Na Europa há guard-rails mais seguros para os motociclistas. A parte inferior da defensa recebe coberturas maleáveis que impedem que o motociclista escorregue por baixo das cintas metálicas ou se choque contra os pilares, evitando lesões piores. Segundo o coordenador da comissão de estudos de segurança no tráfego da ABNT, José Luís Fuzaro, um dos problemas para a aplicação desses sistemas é onde utilizá-lo. “Mesmo na Europa ainda não há consenso. A Alemanha diverge de como utilizar essas proteções. Portugal e Espanha já as utilizam, mas não de forma geral”, afirma o engenheiro.

Fuzaro diz que o Brasil ainda não tem linha de pesquisa sobre esses guard-rails, mas ressalta: “O país poderia utilizar esses equipamentos, desde que eles atendessem às normas americanas ou europeias”. Segundo ele, sua comissão de estudos está revendo as atuais normas para guard-rails. “A revisão termina no primeiro semestre e sua publicação deve ocorrer até o fim do ano.” Essa atualização tratará das proteções para motociclistas. O engenheiro e consultor Nelson Mattos, que atua na fabricante de defensas Armco Staco, acredita que “há uma tendência à utilização de normas que obriguem à proteção do motociclista”.

No que se refere à sinalização de solo e aos guard-rails, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) informou que não há estudos a respeito. Renato Caldo, da CCR, informa que a concessionária não tem modificações previstas em seu orçamento para utilização dessas defensas mais apropriadas a motociclistas.

Uma empresa espanhola, a Cegasa, já se instalou no Brasil para oferecer seu sistema de proteção para motociclistas, uma rede muito resistente e contínua, fixada na parte inferior do guard-rail. Ela impede que o motociclista passe por baixo da defensa ou se choque contra seus pilares. “O material estará disponível no segundo semestre deste ano”, afirma o diretor comercial da companhia, José Ricardo Moreira. Ele estima que o produto acresça cerca de 80% no preço do guard-rail, o que daria algo em torno de 100 reais por metro exclusivamente para a rede de proteção.

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Outro fabricante nacional de defensas metálicas sugere proteção extra para motos, o Motoprotec. É um protetor de borracha que reveste os pilares dos guard-rails e atenua o eventual choque direto do motociclista contra a viga de metal. A empresa que oferece o produto é a Marangoni, que produzirá as ferragens para fixação do Motoprotec nos guard-rails.

Apesar dessas alternativas, até o mês de janeiro nenhuma rodovia brasileira havia adotado algum desses equipamentos de proteção.

DENTES AFASTADOS As obras de recapeamento, fonte de problemas para o povo das duas rodas, começam pela retirada de parte do asfalto antigo por uma máquina grande e pesada, chamada fresadora. O equipamento pode ter 40 toneladas, 400 cv e utiliza um rolo com pinos de metal que arranca o pavimento velho. Até receber a nova camada asfáltica, a pista fica com degraus e ranhuras que atrapalham o controle da moto. “A técnica de fresagem fina é recente, começou a ser usada no fim dos anos 80. No início, a fresagem era grosseira e retirava uma camada mais espessa do asfalto”, afirma Bernardo Ronchetti, gerente de engenharia da Ciber, que produz fresadoras no Brasil.

“Hoje há rolos com menor afastamento entre os dentes, que resultam em ranhuras menores e permitem retirar ondulações e pequenas trincas ou mesmo corrigir o asfalto de um autódromo”, diz Ronchetti. “Quanto mais fina essa fresagem, menor a perda de controle da moto. O ideal, no entanto, é fresar e asfaltar logo em seguida.”

O engenheiro fala da operação e manutenção dessas máquinas: “Durante a fresagem, os degraus transversais [que atravessam a pista] podem ser suavizados. Outro ponto importante para garantir uma raspagem uniforme é a troca da ferramenta de corte por peças de boa qualidade e no momento certo, o que nem sempre ocorre, porque a empreiteira às vezes procura itens de reposição mais baratos.”

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CAPACETE SEM CAPOTE

O gerente do Centro Educacional de Trânsito Honda, José Luiz Terwak, lista os cuidados para quem anda de moto. “Diante dos estragos causados no pavimento por chuva ou tráfego de veículos pesados, algumas dicas são importantes para quem anda de moto”. Veja as principais:

Evite rodar sobre faixas pintadas no asfalto e tenha cuidado extra com as de pedestre, especialmente em dias de chuva.

Não rode em superfícies irregulares e ondulações no asfalto causadas por veículos pesados.

Diesel derramado é comum em ruas e estradas (tanques com tampas ruins vazam nas curvas). Não ande com a moto sobre manchas visíveis de combustíveis, geralmente mais brilhantes.

Diminua a velocidade e evite mudanças bruscas de direção sobre asfalto fresado. Atenção a obras, onde pode haver placas de aço escorregadias.

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Cuidado nos corredores de ônibus: costuma vazar óleo dos motores.

A chuva pode trazer lama, areia e pedriscos para a pista. Diminua a velocidade e evite mudanças de direção.

Caminhões sempre trafegam em velocidade mais baixa que a do fluxo. Mantenha distância segura.

Áreas residenciais e trechos urbanos de rodovias costumam ter lombadas, nem sempre sinalizadas. O garupa sofre mais com elas: pode perder o apoio dos pés e se desequilibrar.

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