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Longa Duração: o desmonte da Chevrolet S10, passou raspando

A S10 se despede da frota aprovada, mas com (sérias) ressalvas. Retentores de óleo e suspensão foram os grandes vilões

Por Péricles Malheiros
Atualizado em 11 dez 2020, 15h22 - Publicado em 31 Maio 2016, 17h27

Desmonte da Chevrolet S10

Quanto maior a promessa, maior é a expectativa. E quanto menos ela é atendida, maior a decepção. Esse é um breve resumo da passagem da S10 pelo Longa Duração.

Virtudes? Claro que ela demonstrou, mas foi por pouco que a balança pendeu mais para as boas qualidades. E foi isso que salvou a S10 de uma reprovação. Esperávamos mais robustez da picape Chevrolet.

A S10 LTZ 2.5 flex cabine dupla 4×4 com câmbio manual de seis marchas entrou para a frota em janeiro de 2015.

Pagamos por ela R$ 89.335 – atualmente o modelo atualizado, com câmbio automático, custa R$ 134.090 – e, apesar do preço alto, desembolsamos outros R$ 2.070 na compra de tapetes com presilhas de fixação, além de protetor e capota para caçamba – itens que, pelo preço da picape, deveriam ser de série.

Desmonte da Chevrolet S10
Antes da estreia da S10 no Longa Duração, a última picape foi a Ford F-1000, desmontada em julho de 1997 (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Mas o tempo logo mostrou que a decisão foi acertada, com uma utilização mais tranquila da caçamba: o protetor resistente permite arrastar cargas pesadas e a capota nunca deixou a água da chuva passar para dentro. Ponto para a linha de acessórios originais homologados pela fábrica.

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Quanto ao serviço da rede autorizada, a tentativa de cobrar um valor de revisão mais alto que o sugerido pela GM e a não substituição de itens previstos no plano de manutenção foram os deslizes mais graves, embora o desempenho geral no atendimento da S10 tenha sido um pouco melhor do que o visto na época dos ex-Longa Onix e Cruze.

Durante os 60.000 km, submetemos a S10 a poucas utilizações mais radicais – exatamente como boa parte de donos de picape faz na vida real.

Na edição de abril de 2015, nossa S10 passou por uma rodada dupla de teste de performance e consumo, primeiro vazia e depois carregada.

Desmonte da Chevrolet S10
Teste de consumo na frota do Longa Duração com carga (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Respeitamos, claro, a carga máxima declarada pelo fabricante, 771 kg – hoje, o site da GM informa 766 kg. Mas talvez esse teste, apesar de realizado dentro dos limites da fábrica, tenha ocasionado um problema grave, detectado somente no desmonte.

Reprovação direta

Ao desmembrar o sistema de transmissão, nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, encontrou os quatro parafusos da forquilha que sustenta a cruzeta do eixo cardã traseiro seriamente avariados.

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A ruptura completa dos parafusos poderia levar à queda do eixo cardã, com consequente perda de tração nas rodas traseiras.

“Esses parafusos foram danificados em algum momento em que a suspensão traseira sofreu compressão excessiva, permitindo que a zona de conexão do cardã trabalhasse em um ângulo aberto a ponto de os parafusos atingirem as paredes da carcaça”, diz Fukuda.

Longa Duração: Chevrolet S10
Ruído intenso acima de 100 km/h foi uma constante (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com o andamento do desmonte, nosso consultor técnico encontrou uma outra prova de que a suspensão traseira não suportou os 60.000 km como deveria: “O batente da suspensão estava danificado, o que reforça a tese de que ela foi comprimida até o seu curso máximo, danificando o suporte da cruzeta”, diz Fukuda.

Parafusos quase decapitados e batentes danificados versus a nossa certeza de ter utilizado a picape sempre da maneira correta só deixam duas possibilidades: ou o peso suportado divulgado pela fábrica está alto demais ou a suspensão se movimentou (na compressão) mais do que deveria.

Outro problema grave foi encontrado no motor, especificamente no cabeçote: os retentores de válvulas não cumpriram seu papel e o lubrificante acabou invadindo a câmara de combustão dos quatro cilindros.

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Desmonte da Chevrolet S10
Após 60.000 km rodados, S10 finalizou o teste com consumo urbano de 4,7 km/l e rodoviário 6,9 km/l (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Conforme o desmonte avançava, surgiam novas provas da falência dos retentores. A cabeça dos pistões e os pés das válvulas de admissão estavam com severo acúmulo de material carbonizado brilhante, típico de óleo queimado.

A medição da folga de entrepontas dos anéis de compressão dos pistões era o que faltava para a condenação definitiva dos retentores.

Todos estavam dentro dos limites estabelecidos pela GM. Mesmo assim, os números de pressão de compressão estavam baixos – média geral de 124,98 psi, ante 253,8 psi do valor nominal de referência – o mínimo tolerado é 100 psi.

Ou seja, com os anéis cumprindo o seu papel, a pressão escapava entre as sedes e as válvulas, áreas danificadas justamente por partes de carvão desprendidas dos pés das válvulas.

A falência dos retentores e os parafusos da transmissão danificados por pouco não levaram à reprovação da picape. “As falhas foram poucas, mas muito graves e em pontos que picapeiros mais exigem confiabilidade: motor e suspensão. Mas também é verdade que a nossa S10 nunca deixou ninguém na mão e o diário de bordo tem poucos apontamentos negativos”, diz Fukuda.

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Chevrolet S10
(Sofia Chiurciu/Acervo pessoal)

O consultor ainda ressalta que mesmo os demais componentes do motor e transmissão encerraram os 60.000 km atendendo com sobra às especificações da GM.

As boas surpresas

Os coxins trabalharam exemplarmente. Tanto os de suporte do powertrain (conjunto de motor e câmbio) como os que fazem a ligação da cabine e da caçamba ao chassi foram encontrados sem sinais de ressecamento ou folgas.

Desmonte da Chevrolet S10
S10 em teste de troca de pneu (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Outro ponto elogiável foi o sistema de alimentação, em especial o corpo de borboleta (ou TBI) encontrado com baixo nível de sujidade, em especial no caso de um veículo com 60.000 km. Ponto para o sistema de filtragem de ar do motor.

Engrenagens, luvas de engate e garfos do câmbio estavam em excelente estado, assim como a embreagem e os diferenciais dianteiro e traseiro.

Não fossem os danos em função do funcionamento irregular da suspensão, o conjunto de transmissão teria sido aprovado com louvor. O mesmo vale para o motor: à exceção dos retentores, todo o restante estava folgadamente dentro das especificações.

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Desmonte da Chevrolet S10
A central multimídia parou de funcionar e voltou quando quis (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os freios foram encontrados com discos com boa espessura, mas eles estavam empenados. “As frenagens já estavam gerando trepidação no pedal”, diz Fukuda, que sempre encara um roteiro pré-desmonte com os carros de Longa Duração justamente para detectar os pontos que demandam maior atenção.

No assoalho da carroceria foi encontrado um ponto de infiltração de água, junto a um tampão. Conectores firmes, isentos de oxidação levaram a uma fácil aprovação do sistema elétrico.

Bem diferente da S10 como um todo, que se despede do Longa Du­ração aprovada, mas com pontos delicados a evoluir no modelo atual.

Desmonte da Chevrolet S10
S10 no Longa Duração passa por simulação de venda (Marco de Bari/Quatro Rodas)

São problemas que podem ter atingido só a nossa unidade e não se manifestarem nas S10 de maneira geral? Sim, como também é verdade que a nossa S10 poderia ter sido comprada por você.

APROVADAS

Negócio arriscado

Desmonte da Chevrolet S10
Bloco do motor (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com tanto carvão formado a partir da falência dos retentores de válvulas, ficou o receio de que algum pedaço riscasse a parede dos cilindros. Felizmente, nenhum sinal foi encontrado.

Vira-vira

Desmonte da Chevrolet S10
Virabrequim e comando de válvulas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O sistema de lubrificação se revelou eficiente: comandos de válvulas e o virabrequim estavam intactos e com todas as medidas dentro dos limites estabelecidos pela Chevrolet.

Na frente, tudo bem

Desmonte da Chevrolet S10
Suspensão (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Buchas das bandejas e da barra estabilizadora e amortecedores íntegros: suspensão dianteira aprovada.

Boa pegada

Desmonte da Chevrolet S10
Embreagem (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A embreagem mostrou o nível de robustez e durabilidade que se espera de uma picape. O disco chegou ao fim da jornada ainda com boa espessura do material de atrito.

Corpo são

Desmonte da Chevrolet S10
Corpo de borboleta (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com baixo nível de sujidade, o corpo de borboleta do motor 2.5 garantiu um funcionamento sem falhas à picape.

Conectividade

Desmonte da Chevrolet S10
Coxins (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os coxins, inclusive os de ligação da cabine e da caçamba ao chassi, estavam em ótimo estado.

Atenção

Caixinha de surpresa

Desmonte da Chevrolet S10
Caixa de direção (Marco de Bari/Quatro Rodas)

No desmonte, a caixa de direção apresentou uma pequena folga entre o pinhão e a cremalheira. Na prática, a caixa só se mostrava um tanto ruidoso no uso em ruas de paralelepípedos.

Óleo de câmbio

Desmonte da Chevrolet S10
Transmissão (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A inspeção visual já havia revelado um pequeno vazamento de óleo na transmissão. No desmonte, o culpado: o retentor do eixo que envia o movimento do câmbio para a caixa de transferência.

Más vibrações

Desmonte da Chevrolet S10
Discos de freio (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O único incômodo foi notado somente nos últimos quilômetros da jornada, uma trepidação no pedal.

O desmonte identificou os culpados: discos de freio empenados. Mas é preciso ressaltar: a picape atravessou os 60.000 km com discos e pastilhas originais.

Reprovadas

Vazamento de óleo

Desmonte da Chevrolet S10
Cabeçote (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os dois últimos GM analisados pelo Longa Duração, Onix e Cruze, saíram do desmonte elogiados pelo ótimo estado dos retentores de válvulas, justamente os itens de reprovação imediata na S10.

Desmonte da Chevrolet S10
Válvulas de admissão (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Dor de cabeça

Desmonte da Chevrolet S10
Suporte da cruzeta (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os parafusos do suporte da cruzeta quase perderam a cabeça porque a suspensão traseira permitiu uma descida exagerada da carroceria.

Se o suporte se desprendesse, o cardã perderia a conexão com o diferencial traseiro e a picape só teria tração no eixo dianteiro, ainda que com o seletor de tração no modo 4×4.

Veredicto

A aprovação da S10 só saiu após uma extensa deliberação entre o consultor Fabio Fukuda e a área técnica de QUATRO RODAS.

Decidimos todos pela aprovação por conta do bom desempenho geral. Afinal, à exceção dos retentores, o motor estava bom e, no caso da transmissão, o dano foi causado por um problema na suspensão.

Mas é preciso deixar claro: esperávamos muito mais robustez da S10. Resta a expectativa de saber se a GM conseguiu sanar as deficiências no modelo atualizado, que mantém a mesma base mecânica, mas com aprimoramentos como coxins da suspensão e da carroceria novos, suspensão reprojetada e direção com assistência elétrica.

Testes (com gasolina)

1.010 km 60.000 km diferença
AÇELERAÇÃO
de 0 a 100 km/h: 10,9 s 11,7 s + 7,34%
de 0 a 1.000 m: 32,3 s – 159,8 km/h 32,9 s / 158,8 km/h + 1,86% / + 0,63%
RETOMADAS
de 40 a 80 km/h (em 4ª): 8,3 s 8 s – 3,61%
de 60 a 100 km/h (em 5ª): 13,3 s 12,7 s – 4,51%
de 80 a 120 km/h (em 6ª): 21 s 19,5 s – 7,14%
FRENAGENS
60 / 80 / 120 km/h a 0: 16,8 / 29,8 / 68,8 m 19 / 31,7 / 67,8 m + 13,1% / + 6,38% / – 1,45%
CONSUMO
Urbano: 4,7 km/l 4,7 km/l =
Rodoviário: 7,1 km/l 6,9 km/l – 2,82%
RUÍDO INTERNO
ponto morto / RPM máximo: 37,8 / 74,4 dBA 37,5 / 71,1 dBA – 0,79% / – 4,44%
80 / 120 km/h: 59,6 / 68,7 dBA 62,3 / 69,4 dBA + 4,53% / + 1,02%

Folha Corrida

Preço de compra: R$ 89.335 (janeiro / 2015)
Quilometragem total: 60.396 km
Quilometragem rodoviária: 47.251 km (78,1%)
Quilometragem urbana: 13.245 km (21,9%)
Combustível (etanol): 10.518,7 litros
Custo de combustível (etanol): R$ 23.553,46
Consumo médio (etanol): 5,8 km/l
REVISÕES
10.000 km: R$ 260 (Nova)
20.000 km: R$ 784 (Carrera)
30.000 km: R$ 660 (Itororó)
40.000 km: R$ 992 (Primarca)
50.000 km: R$ 604 (Vigorito)
PEÇAS EXTRAS ÀS REVISÕES
Alinhamento, balançeamento e rodízio: R$ 1.064
Lâmpada: R$ 10
Tapetes com trava: R$ 150
Capota marítima: R$ 950
Protetor de caçamba: R$ 950
CUSTO POR KM RODADO:

Ocorrências

 
8.137 km: Ruído agudo, no câmbio, invade a cabine
10.682 km: Entrada de água pela porta dianteira direita
36.079 km: Lâmpada da placa queimada
47.837 km: Termômetro com travamento intermitente em 25ºC
50.079 km: Central de mídia com travamentos intermitentes

Linha do tempo

Janeiro de 2015: estreia da S10 no Longa Duração. Desde julho de 1997, quando desmontamos a Ford F-1000, uma picape média não integrava a nossa frota.

Abril de 2015: a frota de Longa foi submetida a um teste para aferir o quanto a rodagem com carga elevava o consumo. Na S10, 14,3% na cidade e 12,7% na estrada.

Junho de 2015: na segunda revisão, a concessionária Carrera tentou cobrar um valor 16,5% mais alto do que o divulgado no site da fábrica. Só voltou atrás após muita reclamação de nossa parte.

S10
Concessionária da rede Chevrolet não trocou o óleo em uma das revisões (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Julho de 2015: outro vacilo da Carrera, que cobrou mas não trocou o filtro de óleo. Ao menos reconheceu o deslize (e o corrigiu) quando reclamamos.

Outubro de 2015: a picape mostra a que veio, encarando um trecho off-road (com pedra, lama e até a travessia de um riacho), na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Novembro de 2015: outro teste com a frota de Longa, dessa vez para mostrar o grau de dificuldade na hora de trocar um pneu furado. O peso elevado e o acesso difícil ao estepe foram os pontos mais criticados da picape.

Janeiro de 2016: a central multimídia fez greve geral: nada funcionava. Chegou a ser condenada pela concessionária Vigorito, mas voltou sozinha ao normal.

Fevereiro de 2016: simulação de venda no mercado de usados revela uma ampla faixa de desvalorização, de 17% e 34%, considerando apenas as ofertas das concessionárias GM. Dentro da média.

Ficha Técnica – Chevrolet S10 LTZ 2.5 flex 4×4 M/T

Motor: flex, dianteiro, longitudinal, 4 cil., 2.457 cm³, 16V, 88 x 101 mm, 11,2:1, 206/197 cv a 6.000/6.300 rpm, 27,3/26,3 mkgf a 4.400 rpm
Câmbio: manual, 6 marchas, tração 4×4 Direção: hidráulica, 12,7 m (diâmetro de giro)
Direção: hidráulica, 12,7 m (diâmetro de giro)
Suspensão: Independente, McPherson (diant.), feixe de molas (tras.)
Freios: disco vent. (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 255/65 R17
Peso: 1.984 kg
Peso/potência: 9,6/10,1 kg/cv
Peso/torque: 72,7/75,4 kg/mkgf
Dimensões: comprimento, 534,7 cm; largura, 188,2 cm; altura, 182,2 cm; entre-eixos, 309,6 cm; capacidade de carga (ficha atual), 766 l; tanque de combustível, 80 l
Equipamentos de série: direção hidráulica, travas, vidros e retrovisores elétricos, sistema multimídia My Link, rodas de liga leve aro 17, banco do motorista com ajuste elétrico, ar-condicionado

 

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