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Longa Duração: o desmonte do Toyota Corolla

Nem a fama de ser imune a defeitos livrou o Corolla de ser novamente submetido aos 60.000 km do Longa. Terá ele repetido o bom resultado de 14 anos atrás?

Por Péricles Malheiros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 Maio 2018, 14h48 - Publicado em 24 ago 2015, 11h00
Corolla desmontado após 60.000 km (Marco de Bari/Quatro Rodas)

*Reportagem originalmente publicada em agosto de 2015

Mesmo o consumidor mais emocional busca uma relação de confiança com seu carro. Afinal, ninguém gosta de ter que se adaptar a um banco que emperra no trilho, um acabamento que insiste em cair sozinho e, o mais importante, de ficar parado no meio da rua.

Agora, se até os donos de Corolla 1992 (ano em que as primeiras unidades desembarcaram no Brasil) ressaltam a confiabilidade e robustez que fez a fama do modelo ao longo dos anos, quem iria se meter a colocar a resistência de um afamado Corolla zero-quilômetro à prova? O teste de Longa Duração.

Em maio de 2014, a versão XEi estreou por aqui. À época, pagamos R$ 77.590 na paulistana Caltabiano.

Um ano mais tarde, em junho de 2015, a mesma loja fez uma oferta de compra de R$ 70.000, chancelando outra boa fama do sedã: a de que ele desvaloriza pouco – menos de 10%, quando a perda média passa dos 20%.

Os 60.000 km de convívio confirmaram o que já tínhamos notado com o Etios, desmontado em junho de 2014: a excelência nos serviços prestados pela rede Toyota.

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Nada de sugestão de manutenções desnecessárias ou cobrança além do que sugere a Toyota. Das cinco paradas para revisão, em quatro um pequeno desconto foi concedido por conta do pagamento à vista.

Na Tsusho, a única que fugiu à regra, o preço foi igual ao sugerido pela marca em seu site. Mas também foi nela que pagamos mais caro pelos serviços de alinhamento e balanceamento: R$ 190, valor alto diante da média de R$ 150.

Ao todo o nosso sedã andou 60.380 km e foi desmontado em dezembro de 2015 (Reprodução/Quatro Rodas)

Felizmente, o Corolla deu fim a uma onerosa frequência nos mais recentes carros de Longa: a dos pneus danificados ou condenados ao longo do teste, casos de Golf, Classe A e C4 Lounge.

No Toyota, eles atravessaram os 60.000 km exigindo não mais que três reparos de furos simples, a um custo total de R$ 170 – um único pneu do Mercedes nos custou R$ 1.500.

Mas o Corolla teve lá seus gastos extras para outros tipos de consertos: R$ 359 para a troca do defletor plástico inferior (quebrado em um buraco, em uma estrada de terra), R$ 300 para retirada, lavagem e secagem do carpete (encharcado quando o carro foi deixado parado em um estacionamento que alagou, aos 43.302 km) e R$ 90 para a troca do para-brisa (atingido por uma pedra).

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O bom nível de espaço para pessoas e bagagem foi, sem dúvida, a qualidade mais ressaltada do Corolla, sempre muito requisitado para viagens. Mas houve quem reclamou de alguns problemas a bordo.

“Mesmo com o tanque cheio, o marcador, no painel, não indicava mais que três quartos. Depois, o sistema antiesmagamento do vidro traseiro passou a funcionar desnecessariamente”, disse o redator-chefe Zeca Chaves ao retornar de uma viagem ao interior de São Paulo, em agosto de 2014.

Ambos os problemas foram sanados na revisão dos 20.000 km. Com a autoridade de quem rodou mais de 5.000 km com o Corolla, Zeca voltou de uma de suas viagens criticando a ausência de controles de estabilidade e tração: “Senti falta deles em trechos de serra com asfalto molhado. Só o fato de saber que os dispositivos não estão lá já causa um certo desconforto”.

MÃOS À OBRA

Mas agora é hora de fechar o álbum de recordações, ou melhor, de montar a última página, com fotos e relatos do desmonte.

Na Fukuda Motorcenter, oficina oficial do Longa Duração, o consultor Fabio Fukuda iniciou as medições. Tudo certo com a pressão de óleo e combustível.

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Aprovação também na pressão de compressão dos cilindros, todos com resultados muito acima do mínimo tolerado e com baixa variação entre eles.

Como dito anteriormente, os pneus resistiram bem aos 60.000 km: a medição da profundidade dos sulcos indicou que eles rodariam pelo menos mais 10.000 km.

A desmontagem revelou que, sim, o Corolla é bastante forte e confiável. Mas não é à prova de falhas, lógico. No motor, a carbonização acumulada no pé das válvulas de admissão indicava que algo não saiu como deveria.

Corolla visita uma pedreira, em Bento Gonçalves (RS) (Reprodução/Quatro Rodas)

Fukuda, nestes casos, age por exclusão: “O problema não ocorreu por mau funcionamento do sistema de recirculação de vapores, pois o corpo de borboletas estava praticamente isento de sujeira. A outra hipótese para a formação de carvão era a invasão de baixo para cima, mas ela também foi descartada, pois não houve perda de pressão de compressão dos cilindros e os anéis do pistão estavam com folga de entre-pontas dentro dos padrões da Toyota. No fim, só sobraram como culpados os retentores, que não conseguiram impedir que o óleo escorresse pelas hastes”.

Todos os demais componentes do motor estavam dentro das especificações toleradas pela fábrica.

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CORPO FECHADO

Carroceria e sistemas elétrico e de direção estavam em ordem. “Assim como a concessionária que fez a manutenção após a inundação, aos 43 302 km, não encontramos nenhum ponto de entrada de água. Aliás, não havia qualquer sinal de poeira ou água no assoalho. Pelo jeito, alguma porta foi esquecida entreaberta na ocasião”, disse Fukuda.

O câmbio CVT teve seu fluido drenado e meticulosamente analisado. “Como não havia qualquer sinal de partículas no lubrificante nem relatos de mau funcionamento ao longo dos 60 000 km, o sistema nem foi desmontado”, diz Fukuda.

O acabamento é outro ponto merecedor de elogio, com sistemas de fixação de isolamento acústico e térmico em quantidade e posicionamento adequados.

PELA SEGUNDA VEZ

Na revisão dos 50 000 km, a Collection condenou o amortecedor dianteiro direito: “Está vazando e a garantia não cobre a troca”, disse o técnico.

Não autorizamos o serviço, retiramos o carro e, em outra autorizada, ouvimos uma resposta diferente: “Apesar do vazamento, não há sinais de mau uso. Então, mesmo se tratando de uma peça de desgaste, vou solicitar à fábrica a troca em garantia”, disse o técnico da Nipônica, de Limeira (SP).

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A substituição foi autorizada e deixamos de gastar cerca de R$ 550 à toa. No desmonte, porém, encontramos o amortecedor novamente com vazamento, exatamente como a peça trocada apenas 10.000 km antes.

Detectamos outro deslize: o filtro de cabine havia sido montado do lado errado, o que permitia a passagem de ar externo diretamente para a cabine.

Corolla em uma das viagens durante os 60.000 km do Longa Duração (Reprodução/Quatro Rodas)

Na análise dos freios, todos os componentes estavam dentro dos limites estabelecidos pela Toyota. Mesmo assim, o sistema recebeu críticas. A marca considera como aceitável a espessura mínima do material de atrito de apenas 1 milímetro.

“É muito pouco. Na traseira esquerda, a borda do disco já estava em contato com a base metálica da pastilha. E ela ainda tinha 2 mm de espessura. Esse atrito entre partes que não deveriam se tocar diretamente é perigoso, pois pode levar a um colapso repentino do disco ou da própria pastilha durante uma frenagem de emergência.”

Quem dirigiu o Corolla repetiu os elogios que se ouve por aí sobre robustez e confiabilidade, mas também notou que ainda há o que melhorar no conteúdo (faltam controles de estabilidade e tração) e na rede (as autorizadas precisam ter conclusões iguais sobre um mesmo caso).

Os 60.000 km na companhia do sedã nos transformaram em testemunhas da alta qualidade do carro e também de sua rede de assistência: apesar dos deslizes, o agendamento é fácil, não há tentativa de empurrar serviços desnecessários, os preços sugeridos são respeitados e o atendimento é cordial, rápido e eficiente.

Por isso tudo, o Corolla se despede do Longa Duração aprovado.


APROVADAS

Bloco, alimentação, ignição e carroceria: ótimo estado aos 60.000 km

Alimentação ideal

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(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os injetores estavam com vazão e leque de pulverização adequados. O corpo de borboletas também estava em estado elogiável: quase isento de resíduo, o que mostra a alta eficiência também dos sistemas de recirculação de vapores e filtragem do ar para o motor. As velas de ignição, de irídio, estavam em ótimo estado.

Tudo certo

certo

Bloco, virabrequim, pistões, anéis e bronzinas de biela passaram ilesos pela inspeção visual e também pelas avaliações instrumentadas. Tudo estava rigorosamente dentro dos valores estipulados pela Toyota.

Sem entrada

entrada
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Apesar de ter passado por uma leve inundação do assoalho, nenhum ponto vulnerável foi encontrado. Aliás, não havia sinais de invasão de poeira ou água.

Farta aplicação de feltro e painéis com presilhas em quantidade adequada e bem posicionadas colaboraram para aumentar o silêncio na cabine.

Aprovação parcial

aprovacao
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Bandeja, buchas, terminais, pivôs, barra estabilizadora, batentes e amortecedores traseiros se apresentaram quase que completamente em bom estado: um dos amortecedores dianteiros não resistiu aos 60 000 km.

+ 10.000 km

10mil
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os pneus Bridgestone resistiram muito bem aos 60.000 km do teste de Longa Duração, com apenas três casos de furos e nenhuma bolha.

Também se mostraram campeões em durabilidade: nosso acompanhamento de desgaste – realizado logo após cada revisão – indica que os pneus rodariam, no mínimo, outros 10.000 km.

Suporte técnico

suporte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os coxins se mostraram perfeitamente adaptados ao motor e ao câmbio do Corolla. Aos 60 000 km, todos estavam em bom estado, sem sinais de ruptura da borracha que cumpre o papel de elemento elástico da peça.


ATENÇÃO

Pastilhas, mesmo dentro do padrão, chegaram ao fim

Lado A, lado B

ladoa
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O filtro de cabine foi trocado quando necessário. Mas, no desmonte, descobrimos que ele havia sido instalado errado, permitindo a passagem direta do ar sem filtragem.

Usina de carvão

carvao
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Falência dos retentores permitiu que o óleo descesse pela haste. Com a alta temperatura da câmara de combustão, o lubrificante carbonizado no pé das válvulas foi se acumulando.

Tolerante demais

tolerante
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O manual técnico estipula para as pastilhas a espessura mínima de 1 mm. A do freio traseiro esquerdo do Corolla ainda tinha 2,0 mm (externa) e 3,7 mm (interna), mas, apesar de estar muito aquém do limite tolerado pela fábrica, a parte metálica da pastilha estava entrando em contato com o disco. Em uma frenagem de emergência, isso poderia levar à quebra do conjunto.


REPROVADAS

O primeiro amortecedor durou 50.000 km. O segundo, menos de 10.000 km

Óleo na pista

oleo
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Na revisão dos 50 000 km, a autorizada detectou um vazamento no amortecedor dianteiro direito e disse que o reparo seria cobrado.

Discordamos e buscamos outra concessionária, que, diante da ausência de sinais de mau uso, realizou a troca em garantia.

Como de praxe, o serviço foi vistoriado logo após sua execução e tudo estava ok. Agora, no desmonte, o amortecedor seminovo apresentou o mesmo problema de vazamento de óleo.


PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS

  • 12.215 km – marcador de combustível não indica tanque cheio
  • 12.247 km – sistema antiesmagamento dos vidros ativado indevidamente
  • 17.225 km – sibilo na velocidade média do ventilador
  • 22.892 km – para-brisa danificado, atingido por um pedaço de pneu de caminhão
  • 43.302 km – invasão de água com acúmulo no assoalho traseiro
  • 49.914 km – amortecedor dianteiro vazando
  • 50.989 km – defletor inferior frontal avariado

FICHA TÉCNICA

  • Motor: flex, dianteiro transversal, 4 cilindros, 1.986 cm³, 16V, 80,5 x 97,6 mm, 12:1, 154/142 cv a 5.800 rpm, 20,7/19,8 mkgf a 4.800/4.000 rpm
  • Câmbio: automático, CVT, 7 marchas, tração dianteira
  • Direção: elétrica, 10,2 m (diâmetro de giro)
  • Suspensão: independente, McPherson (dianteiro), eixo de torção (traseiro)
  • Freios: disco vent. (dianteiro), disco sólido (traseiro)
  • Pneus: 205/55 R16
  • Peso: 1.320 kg
  • Peso/potência: 8,6/9,3 kg/cv
  • Peso/torque: 63,8/66,7 kg/mkgf
  • Dimensões: comprimento, 462 cm; largura, 177,5 cm; altura, 147,5 cm; entre-eixos, 270 cm; porta-malas, 470 l; tanque de combustível, 60 l
  • Equipamentos de série: ar-condicionado digital bizona, central multimídia com GPS, TV e DVD, bancos de couro, volante multifuncional, direção elétrica, computador de bordo, rodas de liga leve aro 16, airbags frontais, laterais, do tipo cortina e de joelho no lado do motorista.

FOLHA CORRIDA

  • Preço da compra: R$ 77.590 (maio de 2014)
  • Quilometragem total: 60.380 km
  • Quilometragem rodoviário: 44.088 km (73%)
  • Quilometragem urbano: 16.292 km (27%)

COMBUSTÍVEL

  • Litros de etanol: 7.221,7
  • Custo: R$ 15.112,90
  • Consumo médio: 8,4 km/l

REVISÕES

  • 10.000 KM – R$ 186 (Sorana)
  • 20.000 KM – R$ 384 (Inter Japan)
  • 30.000 KM – R$ 304 (Tsusho)
  • 40.000 KM – R$ 588 (T-Line)
  • 50.000 KM – R$ 285 (Collection)

Peças extras às revisões: alinhamento, balanceamento e rodízio – R$ 800; funilaria e tapeçaria – R$ 659; borracharia – R$ 170

Custo por 1.000 km: R$ 306,21


teste


VEREDICTO

Surpresa zero: o Corolla se despede do Longa Duração aprovado, atendido por uma rede com muito mais pontos positivos do que negativos.

Mas, apesar de poucas, as falhas são graves e a Toyota precisa cuidar para que elas não comprometam a boa (e justificada) fama de suas concessionárias.

Rei dos sedãs médios, o Corolla se mostrou confiável e robusto durante os 60 000 km que rodou com a gente. Sistemas de controle de tração e estabilidade, com o perdão da insistência, seriam bem-vindos.

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