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Longa Duração: o desmonte do Hyundai i30

Depois de um convívio de um ano e 60.000 km, o coreano prova que é confiável e robusto, mas expõe os furos da rede de assistência

Por Redação
Atualizado em 15 mar 2024, 15h12 - Publicado em 25 dez 2010, 15h56
Desmonte do Hyundai i30
Depois de um convívio de um ano e 60 000 km, o coreano prova que é confiável e robusto, mas expõe os furos da rede de assistência (Sergio Chvaicer/Quatro Rodas)

* Reportagem originalmente publicada em dezembro de 2010

Nada de paradas para conserto de batidas ou problemas constantes que impedissem a marcha firme e acelerada do i30, que não precisou de mais que 12 edições para escrever sua história no Longa Duração de QUATRO RODAS.

O maior dano sofrido foram dois riscos leves no para-choque dianteiro deixados por um motoboy descuidado. Foram 60.000 km sem qualquer reclamação mais séria de mau funcionamento.

Mas se por um lado a vida mansa do i30 indica que o caminho das pedras para a Hyundai no Brasil está traçado, por outro há outras pedras que devem ser retiradas para evitar tropeços.

Revisões com preços altos, empurroterapia de peças e serviços e mão de obra displicente caracterizaram a rede de assistência da Hyundai.

Motor, suspensão, sistema elétrico e acabamento foram desmontados. Apenas o câmbio foi poupado da autópsia promovida pela oficina Fukuda Motorcenter.

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Hyundai i30 se despediu do Longa Duração no fim de 2010 (Arquivo/Quatro Rodas)

Fábio Fukuda, responsável pelo desmonte, diz: “Fizemos uma inspeção visual cuidadosa no equipamento e no seu óleo lubrificante, atrás de sinais de desgaste ou qualquer traço de contaminação. Como não encontramos nada, não havia por que desmontar todo o conjunto”.

O C4 Pallas de Longa Duração, desmontado em dezembro de 2009, também tinha motor 2.0 e câmbio automático, mas as constantes reclamações sobre seu funcionamento e sinais de desgaste visíveis justificaram a desmontagem completa.

O motor quatro-cilindros 2.0 16V, segundo Fukuda, foi aprovado com pequenas ressalvas. O primeiro teste realizado foi o de medição de pressão interna dos cilindros, realizado duas vezes para efeito de eliminação de variações.

Na primeira passagem, 180 psi no primeiro cilindro e 185 psi nos demais – na segunda, 185 psi nos quatro cilindros. De acordo com o manual de reparação cedido pela marca, a pressão mínima seria de exatamente 185 psi.

Os responsáveis pelos números dentro das especificações (ainda que próximos do limite) são os anéis de compressão, todos com 0,3 mm de folga, portanto dentro do que a Hyundai estabelece como nominal, entre 0,2 e 0,35.

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Existem ainda outros dois anéis por pistão, ambos conhecidos como raspadores. “O raspador 1 do primeiro cilindro se partiu na desmontagem”, diz Fukuda.

Modelo em viagem ao Rio de Janeiro (Arquivo/Quatro Rodas)

Os do segundo e terceiro cilindros estavam com folga acima do tolerado (entre 0,37 e 0,52 mm) – respectivamente 0,55 e 0,6 mm.

Em compensação, todos os raspadores 2 atendiam às especificações. As medições apontaram folga entre pontas de 0,4 mm, e o previsto pela fábrica fica entre 0,2 e 0,6 mm.

Ainda na região baixa do motor, tudo certo com os cilindros, que mostraram diâmetro dentro das especificações – os limites de ovalização e conicidade não constam no manual de reparação cedido pela Hyundai. Todos os pistões estavam com folga e diâmetro dentro dos padrões.

Má alimentação

Com o cabeçote aberto, Fukuda encontrou as quatro válvulas de admissão com severo acúmulo de carvão na base.

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“Diferentemente do álcool, que tem uma queima mais ‘seca’, a gasolina deixa resíduos úmidos e isso favorece o acúmulo de carvão na base das válvulas”, diz Fukuda. “De qualquer forma, a quantidade de material depositado era exagerada”, disse.

O problema é que, ao se desprender, o carvão invade as câmaras “de combustão”. Lembra da baixa eficiência dos raspadores 1? A razão pode estar exatamente no contato excessivo com o carvão.

As válvulas de escape estavam limpas, o que também era de esperar, pois a temperatura muito mais elevada que aquelas a que são submetidas as de admissão e o próprio fluxo de saída dos gases rumo ao sistema de escapamento surtem um efeito limpante.

Uma olhada no diário de bordo do i30 nos faz recordar que o hatch sofreu uma intoxicação alimentar. Em setembro de 2010, durante uma viagem de caça a um carro para a seção Segredo, um abastecimento com gasolina “batizada” fez com que o coreano perdesse sua força e não passasse de 60 km/h.

“Mal conseguíamos ultrapassar uma carreta carregada”, afirma o fotógrafo Silvio Gioia, que dirigia o carro na ocasião. “Tudo voltou ao normal após um abastecimento, em outro posto. Mas nenhuma luz ou aviso acendeu.”

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O sistema de direção passou fácil pela dura prova do desmonte: “A caixa de direção estava impecável. Terminais e barras axiais chegaram aos 60 000 km em perfeito estado. Levando em consideração os pneus largos e de perfil baixo rodando sobre nosso asfalto tão maltratado, foi uma surpresa positiva”, diz Fukuda.

Modelo sul-coreano na estrada (Arquivo/Quatro Rodas)

A maior prova de resistência, no entanto, foi aplicada pela rede autorizada: por duas vezes, os amortecedores dianteiros foram deixados com os parafusos de fixação da torre completamente frouxos.

As suspensões também se apresentaram íntegras e arrancaram elogios de Fukuda. “Nenhuma folga nas buchas de bandeja nem nas ligações da barra estabilizadora.”

Os freios terminaram em bom estado, mas nem poderia ser diferente. Na última revisão, a dos 50 000 km, as pastilhas foram substituídas prematuramente: poderiam rodar, no mínimo, outros 5.000 km. Os discos dianteiros e traseiros também resistiram bem e acabaram o teste com espessura dentro dos padrões.

Até no detalhe do detalhe, o i30 causou excelente impressão. A retirada do painel e das forrações revelou virtudes que os olhos não alcançam, mas que os ouvidos agradecem.

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Encaixes precisos, grampos bem fixados e aplicados sem economia, vedação impecável e chicotes de fios e cabos “silenciados” com muita espuma e feltro, além de conectores elétricos bem travados.

“Disparado, o melhor carro que já desmontei para o Longa Duração de QUATRO RODAS”, diz Fukuda, com a experiência de quem, até dezembro de 2010, já desmontou 23 carros.

Os 30 motoristas que se revezaram ao volante sentirão saudade desse coreano competente e, acima de tudo, confiável.


Aprovado

Pegando batente

Os batentes dos amortecedores dianteiros foram substituídos em garantia na revisão dos 20 000 km. Estavam, segundo a concessionária, com deformação excessiva. Os amortecedores em si chegaram ao desmonte, sem sinais de vazamento.

Roda da fortuna

Buchas e terminais resistiram bem à buraqueira de nossas ruas. E olha que o conjunto foi submetido a situações extremas. Na revisão dos 20 000 km, uma roda amassada teve de ser substituída, por 1 770 reais.

Parada obrigatória

O i30 sempre parou de forma equilibrada e sem sustos para o motorista. Os quatro discos encerraram os 60 000 km com espessura dentro da tolerância. As pastilhas foram trocadas prematuramente durante a revisão dos 50 000 km.

Com pressão

Cada pistão tem dois anéis raspadores e um de compressão. Os raspadores 1 sofreram com o contato excessivo com o carvão que se desprendeu das válvulas de admissão e acabaram o teste com folga excessiva. Os anéis raspadores 2 e os de compressão estavam dentro da tolerância.

O vira virou

Aprovado sem restrições, o virabrequim passou em todas as medições a que foi submetido. Munhões, moentes e folga axial obedeciam aos parâmetros descritos no manual de reparação fornecido pela Hyundai.

Bomba desarmada

A bomba d’água estava impecável, assim como todo o sistema de arrefecimento. Aguentaria outros 60 000 km tranquilamente. E não se autodetonaria.

Corpo fechado

Isolamento perfeito deixou água e poeira no lugar certo: do lado de fora. Presilhas de qualidade e em quantidade correta prenderam bem os revestimentos, colaborando para o baixo nível de ruído do i30.

Conexão direta

Com o painel retirado, mais um sinal de capricho: todos os chicotes elétricos são adequadamente envolvidos com material antichama e antirruído. Conectores e terminais também são de ótima qualidade.

Cabeça fria

O cabeçote estava intacto, sem sinais de vazamento na região da junta ou qualquer dano físico proveniente de óleo contaminado.


Atenção

Base contaminada

O carvão úmido nas válvulas de admissão é típico de queima de gasolina, mas se acumulou em excesso, a ponto de contaminar as câmaras de combustão.


Histórico

  • 6.623 km: esbarrão de uma moto deixou dois riscos no para-choque dianteiro
  • 20.000 km: substituição de uma roda amassada que nos custou 1 770 reais
  • 50.000 km: pastilhas dianteiras e traseiras foram trocadas prematuramente na revisão, ao custo de 621 reais, sem contar a mão de obra. A concessionária ainda ofereceu um jogo de pneus novos por 3 920 reais. Fora dela, pagamos 2 156 reais, ou seja, 45% a menos.

Folha Corrida

Preço de compra: 58.000 reais (dezembro/2009)
Quilometragem total: 61 402 km – 47 771 km (77,8%) rodoviário e 13 631 km (22,2%) urbano
Consumo total: 6 163,65 litros de gasolina (15 721,73 reais)
Consumo médio: 10 km/l
Custo por 1 000 km: 415,37 reais (0,41 real por km, já somados os valores de revisões e reparos extras)

REVISÕES:

  • 10.000 km – 344 reais (Caoa Norte, São Paulo)
  • 20.000 km – 979,44 reais (Caoa Robert Kennedy, São Paulo)
  • 30.000 km – 834,70 reais (Caoa Guarulhos, São Paulo)
  • 40.000 km – 955,50 reais (Caoa Edgar Facó, São Paulo)
  • 50.000 km – 2.590 reais (Dapevel Santos, SP)

Check-up

Quilometragem: 1.073 km / 60.003 km / Diferença entre os testes (%)

0 a 100km/h (s) / 12,7 / 11 / 13,4
0 a 1000m (s) / 33,5 / 32,5 / 3
3a 40 a 80 km/h (s) / 5,9 / 5 / 15,3
4a 60 a 100km/h (s) / 7 / 6,3/ 10
5a 80 a 120km/h (s) / 13 / 8,2 / 36,9
Frenagem 60 km/h a 0 (m) / 15 / 15,2 / 1,3
Frenagem 80 km/h a 0 (m) / 28,3 / 26,9 / 4,9
Frenagem 120 km/h 0 (m) / 64,4 / 61,9 / 3,9
Consumo urbano (km/l) / 10,1/ 9,9 / 2
Consumo rodoviário (km/l) / 12,4 / 13,2 / 6,5
Ruído interno PM (dBA) / 34,5 / 34,6 / —
Ruído interno RPM máx. (dBA) / 67 / 65,7 / 1,9
Ruído interno 80 km/h (dBA) / 60 / 59,2 / 1,3
Ruído interno 120 km/h (dBA) / 65 / 64,3 / 1,1


Roteiro

A jornada do i30 teria sido ainda mais tranquila não fosse a desatenção e a ganância da rede autorizada.

Não nos pouparam da incômoda empurroterapia nem na parada para uma simples troca de óleo realizada aos 2.500 km, antes da primeira revisão, aos 10.000 km.

Se a primeira impressão é a que fica, vale lembrar que após o primeiro pit stop do i30 nos mandaram uma conta onde aparecia “descarbonização da injeção” e “Oil Miralube”, um aditivo do óleo do motor.

Questionamos e os dois itens opcionais não foram cobrados, fazendo a conta cair de 252 para 153 reais. Nas revisões, além da mesma disposição de empurrar serviços não previstos no plano de manutenção da Hyundai, as concessionárias pecaram por cobrar preços muito altos.

Descobrimos que o serviço de alinhamento e balanceamento, por exemplo, pode variar de 90 a 300 reais. E que tal um jogo de pneus novos, que sai por R$ 3.920 na concessionária, mas pode ser adquirido numa loja independente por R$ 2.156?

A Hyundai sabe que precisa melhorar sua área de pós-venda e já está se mexendo. Às vésperas do fechamento desta edição, o presidente do Grupo Caoa e dono da maior rede de revendedoras Hyundai, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, disse: “A situação chegou a um ponto em que era preciso uma intervenção de grandes proporções. A partir de dezembro, trabalharemos com tabelas de preços fixos de revisões, reduziremos o preço das peças e fiscalizaremos a rede para coibir a prática de induzir o cliente a pagar por serviços não obrigatórios”.

Ainda de acordo com o homem forte da Hyundai no Brasil, os preços das revisões estarão no site da marca e em banners nas concessionárias. É esperar para ver se a situação finalmente mudará.



Ficha técnica

Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16V
Cilindrada: 1.975 cm³
Diâmetro x curso: 82 x 93,5 mm
Taxa de compressão: 10,1:1
Potência: 145 cv
Torque: 19 mkgf
Câmbio: automático, 4 marchas, tração dianteira
Dimenssões: comprimento, 425 cm; largura, 178 cm; altura, 148 cm; entreeixos, 265 cm
Peso: 1.327 kg
Peso/potência: 9,2 kg/cv
Peso/torque: 69,8 kg/mkgf
Porta-malas/caçamba: 340 litros
Tanque: 53 litros
Suspensão dianteira: independente, McPherson
Suspensão traseira: multilink
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Direção: elétrica
Pneus: 225/45 R17
Equipamentos: ar-condicionado, direção elétrica, trio elétrico, rádio com CD player, MP3, USB, iPod e auxiliar, teto solar elétrico, rodas aro 17


Veredicto

O público costuma reconhecer rápido um bom produto. Por isso, o i30 hoje é líder de vendas entre os hatches médios.

Ao passar pelo Longa Duração, mostrou suas duas faces: no convívio, a ganância e irresponsabilidade da rede; e, no desmonte, a robustez mecânica e o esmero na construção.

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