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Ponto de Vista

Por Jeremy Clarkson
27 Maio 2014, 13h47

A revista de automóveis mais antiga da Grã-Bretanha, a Autocar, ficou tão impressionada com o Peugeot RCZ R que o editor escreveu um artigo dizendo que o cupê prenunciava o retorno à boa forma da gigante francesa. Naturalmente fiquei com um pé atrás. O RCZ R é anunciado como o Peugeot de rua mais potente de todos os tempos, o que é mais ou menos como a Suécia dizer que tem a Força Aérea mais poderosa de toda a Escandinávia. Mesmo assim, não parece certo. E a versão de rua do temível Peugeot de rali dos anos 80, o 205 T16? Fui conferir e descobri que estava errado. A versão legalizada para as ruas do T16 tinha de se contentar com 200 cv, enquanto o motor turbo de 1,6 litro do RCZ R produz 270 cv – e isso tudo despejado somente nas rodas dianteiras.

Para impedir que elas saiam voando ou fiquem ovalizadas, há um inteligente diferencial dianteiro com sensor de torque. E os resultados são muito bons. Em aderência, ele não mostra a mesma tenacidade do novo Golf GTI, mas você não faz a curva sacudindo violentamente ou enfrentando uma saída de frente do tipo “comece a rezar”. E, se fizer o carro trabalhar e depois aliviar o acelerador, você até consegue fazer a traseira escorregar. A revista de automóveis mais antiga da Grã-Bretanha adora esse tipo de coisa. E, para sermos honestos, eu também.

Também gostei do motor. Ele pode ser pequeno, mas é tão disposto que parece que você está pilotando um mosquito. Em um segundo você está aqui, no seguinte está lá longe. Então você olha para o volante e, sim, lá está o emblema da Peugeot, o símbolo moderno da impetuosidade bege, dos passeios silenciosos e da total incapacidade de entender o procedimento certo de entrar numa rotatória. Por dez anos, os Peugeot têm sido comprados por pessoas que não sabem dirigir. E agora a companhia francesa fez um carro visando exatamente aqueles que sabem. É uma máquina para quem tem pé pesado, para pilotos de fim de semana. Então, a revista de automóveis mais antiga da Grã-Bretanha tinha razão em se derramar em elogios. É um retorno à boa forma.

Só que não. Porque, se você olhar além do verniz do motor bem-disposto e do diferencial de ficção científica, nada é tão bom quanto deveria ser. Em primeiro lugar, meu carro de test-drive foi entregue com freios que chiavam. Sim. Um carro de demonstração para a imprensa, para servir de base para um artigo usado em algumas das publicações mais respeitadas do mundo. E a Peugeot não conseguiu fazer nem isso direito. Então o que o cliente normal pode esperar?

Não sei se há no mundo som pior do que o grito agudo causado por leves vibrações nos freios. Disputa palmo a palmo com o feedback acidental nos alto-falantes de um pavilhão de exposições. Ou o choro de um bebê às 3 da manhã quando você está numa avião a 10000 metros de altura sobre o Turcomenistão. Ou como ouvir a Celine Dion. E não há nada que você possa fazer para impedir. Não importa se você fretar com suavidade, cedo ou pregar o pé – você ouvirá exatamente o mesmo ruído, e a mesma cara de desprezo aflito de todos os que ouvirem. O que significa qualquer pessoa num raio de 30 km. Se você estiver numa festa e alguém vomitar em você, passará o resto da noite notando outras coisas que não gosta nessa pessoa. E infelizmente foi o que me aconteceu com o RCZ R. Por causa daqueles freios, comecei uma missão de procurar por outras coisas de que não gostei. E achei muitas.

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Inclusive coisas pequenas, como porta-objetos sem forração na porta do carro. Coloque qualquer coisa que não seja um bichinho de pelúcia ali que ele vai chacoalhar e fazer barulho. Há também a posição de dirigir. Muitos ajustes podem ser feitos, mas não consegui achar nenhum em que me sentisse à vontade. Nem conheci ou ouvi falar de qualquer ser humano que pudesse caber no banco de trás.

Outras coisas? Sim. Infelizmente sim. Antes de se acomodar em um RCZ R, você tem de conferir o que está calçando. Se forem tênis ou mocassins de sola macia, tudo bem. Mas, se forem sapatos pesados ou botas, você ficará louco e provavelmente vai bater em um muro. É um problema que assola os Peugeot há anos. Coloque seu pé na embreagem e a ponta do seu sapato fica entalada atrás, e você tem de brigar para soltá-lo. E só Deus sabe como é para pessoas com pés grandes. Então, você está sentado lá com seu pé preso, com as chaves da casa tilintando no porta-objetos e os freios guinchando, e começa a pensar: “Sim, este carro tem boa dirigibilidade e é rápido, mas, além da dinâmica e da carroceria bonita, é só um Peugeot 308”. E nem sequer a versão mais nova.

E tem mais.Você não consegue alcançar nenhum dos botões do painel, a não ser que tenha um cotovelo telescópico. E as alavancas montadas na coluna de direção que operam o piloto automático e o som ficam completamente escondidas pelo volante.

Nessa altura, eu achava que já tinha encontrado o suficiente para não gostar no RCZ R. Mas tinha mais. A vivacidade do motor cobra um preço. Para mantê-lo sempre pronto para atacar, as marchas são extremamente curtas. Em velocidade de cruzeiro numa via expressa, o motor gira acima de 3 000 rpm, mesmo usando a sexta marcha. Sim, quando você crava o pé no acelerador a resposta é instantânea, porque você está na zona de torque e o turbo já está cheio, mas o zunido pode se tornar bastante cansativo.

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A dirigibilidade também cobra um preço parecido. A versão R é um pouco mais baixa que a versão-padrão, o que significa que ele é tremendo nas curvas, mas você fica à mercê de solavancos quando anda em baixa velocidade em ruas e estradas que não sejam uma mesa de bilhar. Estranho, não? Fico pensando como este artigo teria saído se o RCZ R não tivesse vomitado em mim. Porque, pesando tudo, é ótimo de guiar, bonito e dei 4 estrelas quando avaliei o RCZ normal. E este tem muito mais vigor.

Mas ele tem falhas, e não é exatamente barato para a categoria. Na Inglaterra ele custa 31 995 libras (R$ 123 000), mas um Audi TT igualmente rápido sai por 1 200 libras (R$ 4 600) a menos. Que é um carro em que seu pé esquerdo não fica preso sempre que você troca de marcha. Pior ainda, este Peugeot é apenas 7% mais barato do que o BMW M235i, que é cerca de 50% melhor em quase todos os aspectos.

Hummm… A revista de automóveis mais antiga da Grã-Bretanha se derramou em elogios pelo RCZ R, mas também afirmou que ele era apenas o terceiro melhor carro desse tipo que se pode comprar. Eu concordo com isso.

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