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Sinais trocados

Por Jeremy Clarkson
27 fev 2014, 13h00

O híbrido Lexus IS 300h parece um esportivo agressivo. Mas é bom o carro da frente não dar passagem: você não vai conseguir passá-lo

Ao longo dos milênios, o homem tem sido consumido por uma necessidade de velocidade. Na Idade da Pedra, aqueles que corriam mais rápido conseguiam a melhor comida, e isso fez deles os reis do pedaço. Então veio o cavalo e a história se repetiu. Gengis Khan teve sucesso porque os soldados da sua cavalaria usavam leves armaduras de seda, que os deixavam mais velozes. Nos dias do vapor, maquinistas competiam para ver quem tirava o melhor tempo de sua locomotiva e, no mar, navios de cruzeiro faziam corridas contra o tempo através do Atlântico.

Quando comecei a dirigir, era tudo que eu e meus amigos conversávamos: quem tinha o carro mais rápido? Eu passava horas vasculhando revistas de automóveis para encontrar evidências de que meu VW Scirocco GLi era mais veloz do que os carros dos meus amigos. Mas então algo estranho aconteceu: a velocidade não é mais importante. O Concorde foi substituído pelo Boeing 787 Dreamliner, eficiente no consumo de combustível. O trem de alta velocidade HS2 está sendo questionado por causa do custo e do impacto que terá nos locais por onde passa. E nas estradas estão fazendo de tudo para nos deixar mais lentos. Não muito tempo atrás, Frank Beard, o baterista do ZZTop, disse que ele tinha uma Ferrari porque, com ela, “eu posso sair para a festa mais tarde, chegar lá antes, ficar mais tempo e ainda estar na cama com alguém antes de todo mundo”.

Mas hoje ouço adolescentes falando sobre seus primeiros carros e parece que eles só falam sobre o consumo. Meu filho está orgulhoso do seu Fiat Punto TwinAir, não por causa das rodas bonitas ou do turbo, mas porque faz mais de 25 km/l. O que significa que ele chega na festa depois de todo mundo, mas tem mais dinheiro para gastar com cerveja.

O que quer dizer que ele não pode dirigir de volta para casa depois e tem de dormir no chão. Estes são tempos estranhos, o que nos leva a um carro estra- nho, o Lexus IS 300h F Sport. Seu visual é extrema- mente agressivo. Ele tem rodas grandes, luzes diur- nas cortantes, uma postura inclinada para frente e uma grade tão grande que não ficaria surpreso se tivesse sua própria lua. É um carro que trombeteia uma mensagem bem clara para o retrovisor dos motoristas à sua frente: “Saia do meu caminho!”.

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É a mesma história no interior. O painel de instrumentos é uma cópia direta do brilhante superesportivo Lexus LFA. Há mostradores que se mexem, informação que você não sabia que precisava, um mouse para operar o sistema e um dispositivo que tosse discretamente, como um mordomo, quando você está se aproximando de um radar. Os assentos, soberbos, abraçam o corpo. Há espaço para muitos, e você tem um porta-malas grande, sensato, no qual você pode carregar coisas. Então, o que temos aqui parece ser uma alternativa interessantes ao BMW Série 3. Um sedã de motor dianteiro e tração traseira, com os benefícios adicionais da eletrônica japonesa e da qualidade da Lexus. Mas… leva cerca de 4 segundos para você perceber que este não é um sedã esportivo. Em vez disso, ele é um carro feito para os dias de hoje e nosso desejo recém-descoberto de economizar dinheiro. Este é um carro feito para uma só coisa: economia. Ele é um híbrido. O motor a gasolina de quatro cilindros foi projetado não para produzir a maior potência possível, mas o menor atrito. Então você tem o motor elétrico, que liga e desliga de forma transparente. E então há o câmbio eletrônico…

Ele não parece ou soa como qualquer outro carro que você já tenha dirigido.A rotação sobe e cai instantaneamente. Não há trocas de marcha como as que conhecemos. E, como o barulho que ele faz não tem nada a ver com a velocidade em que você está indo, você tende a chegar nas curvas ou rápido demais ou nem de longe com a velocidade suficiente.

Enquanto isso, no painel você vê centenas de leituras de coisas que não entende realmente. Você pode saber, por exemplo, qual motor está tracionando as rodas em um dado momento ou quando o embalo está sendo usado para gerar eletricidade. Dirija com pé leve, e ele te diz que você está sendo econômico. Crave o pé no carpete e ele te diz que você está usando energia. Isso eu já sei. Meu pé já está quase furando a parede corta-fogo do motor.

Dizem que você vai de 0 a 100 km/h em 8,4 segundos, o que é um valor respeitável, mas em nenhum momento ele parece nem sequer animado. Quando você pisa fundo na estrada, parece que alguma coisa está quebrada. Há mais barulho, porém nenhuma velocidade a mais. Não até você ter rodado quilômetros e quilômetros. Você pode colocar o carro no modo Sport S+, o que faz aparecer um conta-giros, mas praticamente nada mais. Então, embora a grade esteja dando ordens ao carro da frente, é melhor você torcer para que ele não abra passagem, pois provavelmente você não vai conseguir ultrapassá-lo. O IS 300h passa a sensação de que é um carro. Ele tem o visual de um carro. Mas não se comporta como um carro, e eu acho isso irritante.

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Mas estou sendo um dinossauro, não é? Estou julgando o baby Lexus pela velocidade, o que nos dias de hoje é mais ou menos como julgar um cachorro pela sua capacidade de escrever poesia. Eu me importo com velocidade. Frank Beard se importa. Mas e todo o resto das pessoas? Nem um pouco. Mas há a questão do consumo de combustível. Bem, os números oficiais são de uns 23 km/l, o que parece quase inacreditável. Mas isso porque, no mundo real, de fato é. Na cidade, onde o sistema híbrido realmente faz diferença, o Lexus é muito mais econômico do que todos seus concorrentes. Mas na estrada você terá de pisar fundo no acelerador para manter uma velocidade compatível, e isso joga os números de economia de combustível lá para baixo. O que levanta uma pergunta: por que a Lexus não fez o que todos os outros fabricantes fazem e colocou um motor a diesel? Por que todo esse incômodo de instalar dois motores no carro? Por que todo esse peso extra? Por que fazê-lo passar uma sensação tão diferente? A resposta é simples: a Lexus não faz carros a diesel. Ela não sabe como fazer.

Bom, vou falar o que acho, alto e claro: se eu estivesse em busca de um sedã médio e preocupado com a conta do combustível, eu compraria um BMW Série 3 movido a diesel. O sedã alemão teria mais torque, seria mais rápido, mais barato de usar, mais suave e convencional.

O Lexus é o futuro: disso podemos estar quase certos. Mas acho que ainda não estou pronto para esse futuro, porque os dinossauros têm seus carros a gasolina e os jovens, seus carros a diesel. O que significa que os híbridos estão atendendo a um mercado que ainda não existe.

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